segunda-feira, 12 de julho de 2010

Violência Contra A Mulher - A Princesa E O Lobo Mau

Cinderela encontrou seu príncipe encantado, mas, na vida real, muitas princesas acabam se envolvendo com o Lobo Mau. “Vou soprar, vou bufar e sua casa derrubar”.

Sabemos que ele matou a avó da Chapeuzinho Vermelho e dois dos três porquinhos. É provável que existam outras vítimas. A própria Chapeuzinho Vermelho escapou por um triz.

A mulher que se envolve com este tipo de homem não tem nada a ganhar. Se conseguir sair da relação, terá que cuidar das feridas físicas e emocionais causadas pelo agressor. Se ficar, será eternamente infeliz, podendo ainda ser assassinada.

Geralmente, o “lobo” se apresenta em pele de cordeiro. É amigável, simpático e usa seu charme para seduzir as vítimas.

Com o tempo vai se revelando. No fundo, é um cara instável, insensível e que demonstra absoluta desconsideração pelos sentimentos dos outros.

Não sabe lidar com aborrecimentos, seus desejos e vontades são lei e precisam ser gratificados imediatamente. Fica furioso e destrutivo, quando não consegue o que quer.

Costuma não demonstrar remorso pelo crime cometido. É pouco provável que assuma a responsabilidade por seus atos. Segundo ele, a culpa é da bebida ingerida, da droga usada, do ciúme, da negligência da esposa que não passou bem sua camisa de trabalho ou que deixou a comida queimar no fogão.

Não admite para si mesmo nem para os outros que é um doente com grave distúrbio psicológico. Ao invés disso, pede perdão, jura que vai mudar seu comportamento e que aquilo não vai acontecer nunca mais. Fica carinhoso, mais paciente e até compra presentes para a “amada”, fingindo que nada de sério aconteceu. Porém, a fantasia de bom moço dura pouco. O que, normalmente, acontece é ele se tornar cada vez mais violento e os períodos de calmaria durarem menos.

Dados da Fundação Perseu Abramo revelam que, a cada 15 segundos, uma mulher é espancada no Brasil. Inúmeros crimes brutais acontecem constantemente. A violência doméstica é uma questão nacional. Pesquisa do Instituto Sangari revela que, em dez anos (1997 a 2007), dez mulheres foram mortas por dia no Brasil. Os assassinos, quase sempre, são os atuais ou ex-maridos, namorados ou companheiros.

Uma grande parte das mulheres se cala e não registra queixa com medo de apanhar mais ainda e de que o companheiro se vingue agredindo os filhos ou outros parentes próximos. Outras, por incrível que pareça, não querem prejudicar o agressor, pois sabem que seu destino pode ser a prisão. Há aquelas que dependem emocional e financeiramente do companheiro e que fazem valer a famosa expressão “ruim com ele e pior sem ele”. Por fim, algumas mulheres acreditam que a agressão não se repetirá e que talvez tenham sido culpadas pelo comportamento exaltado do companheiro.

É comum as vítimas da violência doméstica tentarem esconder o problema que estão vivenciando dos amigos e parentes por medo e vergonha. O aparecimento de machucados e hematomas é explicado como sendo fruto de uma queda ou batida.

Outros sinais ajudam a evidenciar a violência, tais como: baixa auto-estima, depressão, afastamento da vida social, introspecção, isolamento, aumento das faltas no trabalho, silêncio sobre a vida do casal.

E não é só a violência física contra a mulher que é intolerável. Também é inadmissível o abuso sexual ou emocional.

Querida leitora, se você está passando por isso, procure apoio psicológico. Eu sei como é difícil sair de um relacionamento desta natureza, mas acredite em mim: NÃO É IMPOSSÍVEL.

Admitir que a relação não faz bem para você e querer sair dela é o primeiro passo.

Grupos de ajudam funcionam muito bem e trazem resultados satisfatórios. Você já deve ter ouvido falar, por exemplo, na entidade MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas). Lá é possível aprender e se fortalecer ao tomar conhecimento da vida de outras mulheres com histórias de amor parecidas com a sua. A freqüentadora do grupo não precisa falar nada durante as reuniões, se não quiser.

Também é importante buscar orientação jurídica e policial. A lei Maria da Penha foi criada para proteger a mulher, mas ainda falha nas medidas protetivas. Mesmo assim, o melhor caminho é denunciar.

Você, mulher violentada, precisa de carinho e de cuidados e não de um torturador. Como dizem por aí: “É preferível um fim pavoroso a um pavor sem fim”. Tenha coragem para seguir adiante e também para olhar dentro de si mesma e avaliar o que a fez entrar e permanecer num relacionamento tão violento, a fim de que suas futuras escolhas amorosas sejam saudáveis e prazerosas.

Acho interessante analisar que por trás da violência mencionada neste artigo, existe uma sociedade que, muitas vezes, desmereceu as mulheres e divulgou a idéia de que o homem era superior e que, por isso, tinha o direito de impor suas vontades, inclusive as sexuais, usando, se preciso, até a força física para demonstrar a sua virilidade, força e poder.

Faz cinco mil anos que é perigoso ser mulher. Na história da humanidade, muitas mulheres foram queimadas na fogueira, apedrejadas, estupradas, espancadas, mutiladas sexualmente, tratadas como propriedade do homem e impedidas de sentir desejo. Até outro dia, não podiam estudar, votar nem trabalhar fora de casa.

Entre os diversos fatores envolvidos neste processo, um deles, sem dúvida alguma, é o medo inconsciente do feminino, que faz parte da psique humana.

A mulher é um imenso mistério. Ela é capaz de gerar outra vida dentro dela. Isso nos encanta e, ao mesmo tempo, apavora. Quem é esta que sangra todo mês, que é capaz de amar incondicionalmente, que traz a intuição dentro da alma, que é tão forte e frágil ao mesmo tempo e ainda assim é capaz de enfeitiçar os homens?

Fiquem tranquilos, rapazes, porque este medo não tem nada a ver com homossexualidade. Mas saibam que gostar de fazer sexo com mulher é uma coisa e gostar realmente de mulher é outra totalmente diferente e mais complexa. Tocar o corpo da mulher e chegar até a sua caverna escura não significa, de modo algum, tocar sua alma e entrar em contato com o feminino misterioso e profundo.

Se, por um lado, Freud falava da castração e da inveja do pênis, por sua vez, Lacan ressaltava o ciúme do orgasmo feminino, que é mais complexo e duradouro. Assim sendo, vejo o relacionamento amoroso e sexual como o encontro de duas pessoas assustadas pelas diferenças e estranhezas, tentando se proteger do outro e de si mesmas, mas, no fundo, querendo ser aceitas e admiradas.

Com carinho, respeito e diálogo, acredito ser possível perceber que a graça do conviver com outra pessoa está justamente nisso. Poder penetrar outro mundo, fazer novas descobertas, sentir medo e excitação, compartilhar, somar e ver a vida com outros olhos. A mistura do tempero masculino com o feminino é o grande sabor da vida.

Espero que você encontre um bom parceiro para desfrutar a vida ao seu lado. E lembre-se de que é preferível ficar sozinha a se envolver com o lobo mau. Viver só não tem nada a ver com ser infeliz.



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