quarta-feira, 19 de outubro de 2011

FICAR MAGRA NÃO RESOLVE TUDO

A história se repete com frequência. Ouço o mesmo desejo nos lugares mais variados — supermercados, salões de beleza, academias de ginástica, universidades... Mulheres de várias idades e diferentes tipos físicos querem a mesma coisa: emagrecer. Muitas conseguem  atingir o objetivo, mas descobrem que a felicidade não vem de brinde
Ficar magra não resolve tudo
Muitas pessoas desejam tanto ser magras que depositam nisso a solução para todos os seus problemas. Mas não é bem assim.
Matéria publicada por Danielle Nordi,  site iG São Paulo | 09/07/2011 07:06

 “Quando eu emagrecer, todos os homens do mundo vão olhar pra mim e vou arrumar um emprego incrível. Todos os meus problemas vão desaparecer”, este era o pensamento da analista de marketing Joana Cannabrava quando estava alguns quilos acima do ideal. Ela emagreceu treze quilos, mas a vida não se tornou o paraíso que imaginava. Joana não está sozinha em sua idealização: muitas mulheres dividem essa esperança de que, quando a barriga sumir e o culote desaparecer, junto com eles vão todas as dificuldades da vida.


A psicanalista especialista em transtornos alimentares e obesidade Maria Elizabeth Gatto afirma que os problemas existenciais definitivamente não se resolvem com a perda de peso. “É claro que emagrecer tem vários benefícios. A saúde melhora, normalmente, a autoestima também. Além disso, os mais gordinhos sofrem bastante preconceito. Com o emagrecimento, certas questões ficam resolvidas.”

Só que depositar na perda do peso uma esperança de mudança de vida radical é irreal. “Normalmente, a busca pelo corpo esbelto e magro já começa fantasiosa. Mas os problemas existenciais não se resolvem com o problema de peso”, diz. “Nem tudo melhora com o emagrecimento, senão nenhum magro teria depressão, por exemplo”.
Joana conta que batalhou muito para deixar para trás os odiados quilos a mais na balança. Mas, depois que atingiu o pesou ideal, veio o baque da realidade. “Eu desabei. Quando eu estava com o corpo que sempre quis, percebi que tinha acabado com minha autoestima”, conta. Isso aconteceu, segundo ela, porque a obsessão pelo emagrecimento fez com que deixasse de enxergar qualquer outro lado seu. Para ela, estava sempre feia.
Sem ilusão

A história da fisioterapeuta Paula Crivelaro, 32, é diferente. Ela decidiu fazer a cirurgia bariátrica e perdeu mais de 40 quilos. “Eu tinha alguns problemas pontuais de saúde, mas sofria mesmo era com a parte estética. Mesmo assim, quando decidi pela operação, estava consciente que minha vida ia continuar igual ao que sempre foi.”

Ela conta que se sente mais feliz e disposta, mas continua correndo atrás do que quer. “Tudo que eu esperava que acontecesse, realmente aconteceu. Mas minhas expectativas eram relacionadas ao meu corpo e saúde. Já vi pessoas que emagreceram achando que iam arrumar namorado ou comprar uma casa. Isso não acontece!”.
O grande problema, de acordo com a especialista em medicina estética e emagrecimento Dora Ullmann, autora do livro “O Peso da Felicidade – Ser Magro é Bom, Mas Não é Tudo” (RBS Publicações), é que ao enxergar modelos e atrizes magérrimas e bem sucedidas, algumas pessoas acham que as duas coisas sempre vêm juntas. “Magreza não é sinônimo de sucesso, embora pareça, com tantas mulheres lindas e famosas que vemos o tempo todo na mídia”.

Perspectiva irreal

Dora explica que é comum as pessoas culparem características físicas como causadoras de problemas, quando na verdade a raiz da dificuldade pode estar em outro lugar. “Quando a pessoa tem uma perspectiva irreal de como será sua vida depois de emagrecer, cabe ao médico identificar isso e explicar que certas coisas não vão se alterar.”
“Buscamos reduzir expectativas muito altas que os pacientes tenham, mas nem sempre isso é absorvido”, pondera Maria Elizabeth. No caso de Paula ela ouviu as recomendações médicas com muita atenção. “Meu médico explicou que não adiantava pensar que nunca mais eu ia tomar refrigerante ou comer um lanche mais gorduroso. Ele preferia nem me operar se eu não fosse bem ‘pé no chão’ e entendesse que ia ter uma vida normal, com altos e baixos, mesmo depois de emagrecer. Eu sabia que as coisas não iam cair do céu”, conta.
Visão fragmentada de si mesma

Era justamente essa consciência que Joana não tinha. A obsessão por ser magra trouxe junto a ilusão de que só isso importava. “Eu não conseguia ver se meu cabelo estava bonito, se minha maquiagem era bacana. Só enxergava gorda ou magra.” Depois de cair em depressão, resolveu procurar ajuda.



Maria Elizabeth explica que a comida tem uma função muito importante na vida das pessoas que apreciam um bom prato. Justamente por isso é comum que a depressão apareça após um processo de emagrecimento. Ela diz que procura sempre trabalhar a mudança de foco: a busca por prazer em outras atividades é essencial, já que o alimento não é fonte mais de alento.

Hoje, Joana conta que consegue ter uma visão mais fragmentada de si mesma: sabe apreciar suas qualidades, mas ainda vê defeitos. Voltou a engordar, mas agora sua jornada é outra. “Claro que quero emagrecer novamente. Quem não quer? Só que eu percebi que sou mais importante que a imagem no espelho”, afirma.
“Enquanto você achar que o problema da felicidade está no número que a sua balança marca, você não vai ser feliz porque um número nunca vai ser a sua felicidade. Na prática não é assim. Gorda ou magra, você é a mesma pessoa. Eu atingi o peso ideal e tive que lutar para sair do fundo do poço”, lembra Joana Cannabrava.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Amor Paterno

O Dia Dos Pais já passou, mas sempre é tempo para falarmos sobre o amor paterno. A crônica "Ser Pai", escrita por Ruy Fernando Barboza, é deliciosa de se ler.

  
Com quem se aprende a paternidade? Pai pode ser amigo? Criar menina é diferente de criar menino?

"Desde criança eu queria ser pai. Admirava famílias grandes, casas cheias de quartos com beliches, um monte de gente falando na hora do jantar. Olhava para cada menina como uma potencial mãe dos meus filhos. Depois descobri o sexo, e nada podia ser melhor do que isso. Era tão bom que eu nem pensava que todo aquele prazer era exatamente o que fazia com que homens e mulheres se tornassem pais e mães. Até que minha namorada ficou grávida. E a relação entre um e outro desejo se estabeleceu com uma clareza contundente! Grana pouca, 23 anos eu, e ela 22. Em nenhum momento duvidamos de que a notícia era maravilhosa e casamos, praticamente sem pensar, em abril de 1967. No dia do casamento, três meses de gravidez, o vestido dela, na altura dos seios, apresentava manchinhas de leite. Foi para mim um bom sinal. Certamente teríamos uma família grande, feliz e bem alimentada. Paramos em dois casais de filhos (por ordem cronológica Juliana, Saulo, André e Carolina, respectivamente atriz, psicólogo, advogado e psicóloga).

Nunca nos sentimos preparados para a paternidade ou para a vida (ainda não me sinto e, apesar de carreiras bem-sucedidas no jornalismo, no direito e na psicologia, às vezes penso que minha verdadeira vocação seria cantar guarânias em bares boêmios). Entre culpas, medos e alegrias (com predomínio absoluto das alegrias), porém, acho que me saí razoavelmente bem. No fundo, ninguém ensina ninguém a ser pai. Vamos aprendendo aos poucos, com a experiência. E imitamos, mesmo sem querer, a referência de pai que tivemos. Olhando pra trás, vejo quanto imitei o meu, de quem de cara herdei o nome, Ruy, e de quem recebi um afeto sem limites. De escola, meu pai só teve o primeiro ano primário. Paulista de Jaú, filho de colono de fazenda, foi lavrador, cozinheiro, mecânico, motorista, marceneiro e lenhador.

Cresceu serrando troncos, produzindo dormentes para a construção da ferrovia Araraquarense. À noite, à luz de velas, aprendia solitariamente em quartos de pensão lendo livros de matemática, português (seu velho Dicionário de Cândido de Figueiredo até hoje está comigo) e inglês (O Inglês Tal Qual Se Fala no Presente, Sem Auxílio de Professor, que também herdei). Aprendeu tudo sobre café, tornou-se provador e classificador e, final da década de 40, casado e com três filhos, gerente de empresas exportadoras no norte do Paraná. Conheci as mãos de meu pai já macias. Depois do jantar, eu colava o ouvido ao violão para ouvi-lo dedilhar velhas valsas e sambas. Não havia mais calos na mão que tocava meu peito enquanto ele me contava histórias e me cobria nas noites de frio. Meu pai se foi há 15 anos, mas ainda sinto sua mão. É ela que me conforta nos momentos de desamparo.

A percepção desse afeto é que me deu força para, aos 17 anos, quando entrei na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, vir morar sozinho em São Paulo, onde não conhecia ninguém. Quando me tornei pai, aos 24 anos, tudo o que queria, e ainda quero, era poder tocar meus filhos com aquela mesma mão. Garanto: se você quer ser um bom pai ou uma boa mãe e ter filhos felizes, só precisa tocá-los dessa forma. O resto é detalhe.

Acho engraçado dizerem que pai não pode ser amigo. Pode, sim. Meu pai foi, e eu sempre quis ser amigo dos meus filhos. Amigo de verdade não é o que é conivente com erros e deixa o outro fazer bobagem. Amigo briga, até rompe a amizade quando vê aquele que ama estragando a própria vida. Um dia esse amigo volta e agradece. Pai tem de ser amigo assim.

Muitas vezes me perguntei se gostava mais de um filho que de outro. Pergunta que todo mundo faz aos pais. Não vejo diferença entre os meus amores por eles. Vejo, sim, que em cada tempo posso ficar mais próximo de um. Ou porque me identifico mais com o que ele está vivendo ou porque acho que naquele momento precisa mais de mim - ou eu dele.

E sempre confiei nos meus filhos. Nunca considerei saudável o comportamento do pai que vigia e investiga. Isso não é cuidar. Cuidar é dar opinião, é defender, é manter-se solidário, pronto para ajudar, mas respeitando a autonomia do outro.

Culpa, só sinto pelos momentos em que fui pouco atento ou interferi indevidamente na vida deles. Momentos em que não percebi ou não valorizei o sofrimento por que passavam. Momentos em que perdi a cabeça e descarreguei neles raivas que trazia de outras pessoas. Mas também aprendi que, se esses erros não são o nosso padrão de comportamento, não têm conseqüências a longo prazo. Diluem-se em meio às situações em que predominaram a compreensão e o afeto.

Menino, reconheço, dá muito mais trabalho que menina. Menino briga em festa, bebe de cair, experimenta droga, picha muros, anda de moto, faz besteira, faz bagunça, vai preso. Deixa você bravo, preocupado, com a pulga atrás da orelha. Menina tem juízo. Nunca perguntei a nenhuma das meninas onde iam, com quem iam, a que horas voltariam. Sempre soube que elas tinham mais juízo que eu, que sou menino. Aos meus meninos eu também não perguntava, mas com eles o resultado nem sempre foi bom. Devia ter perguntado. Errei.

Nosso maior sofrimento, no entanto, foi quando, depois de 21 anos, eu e minha mulher nos separamos. Não avaliei quanto seria difícil. E não havia nada a fazer. Foi quando descobri que sempre há algo a fazer, sim. No caso, era chorar. Não esconder o que eu sentia nem julgar a raiva ou a tristeza de cada um deles. Sofrer e chorar juntos pelo caminho que a vida tomava. Dessa crise, acredito, saímos todos fortalecidos. Em diferentes momentos, morei sozinho, morei com os quatro, com dois, com uma das meninas e, finalmente, moro sozinho de novo. Divido meu tempo entre Florianópolis e São Paulo, aproveitando o que há de melhor nas duas cidades. Em Floripa, o que há de melhor é minha namorada, apesar da linda paisagem da ilha. Em São Paulo, o que há de melhor é meu neto, Eduardo, apesar do amor por meus filhos e da minha ligação com a cidade.

Eduardo, meu primeiro neto, completa 1 ano no mês que vem. Ainda tenho comigo a grandiosa sensação do dia em que ele nasceu e dirigi 700 quilômetros para vê-lo. Se ser pai nos traz a ilusão de sermos pequenos deuses, pelo milagre que é ver surgir de nós uma vida, ser avô faz de nós divindades maiores, pois nos traz a sensação de que geramos nada menos do que um deus! Para encerrar, um alerta: quando você ouvir um avô dizendo que seu neto é a coisa mais linda do mundo, não acredite. Ele está sendo parcial, pouco objetivo, influenciado por essa falsa idéia de que produziu milagres. Nenhum outro avô pode ter originado a coisa mais linda do mundo, pois a verdadeira coisa mais linda do mundo é o meu neto, o Eduardo".

(Obs: Esta crônica foi publicada na revista Cláudia em agosto de 2007).













domingo, 7 de agosto de 2011

Mudar É Preciso



Segue abaixo mais um belíssimo texto escrito por Lya Luft. Esta escritora brasileira sempre tem muito a dizer e a ensinar através de sua inteligência e sensibilidade. Vale a pena conferir.

A Idade e a Mudança (Lya Luft)

"Mês passado participei de um evento sobre as mulheres no mundo contemporâneo.

Era um bate-papo com uma platéia composta de umas 250 mulheres de todas as raças, credos e idades.

E por falar em idade, lá pelas tantas, fui questionada sobre a minha e, como não me envergonho dela, respondi.

Foi um momento inesquecível... A platéia inteira fez um 'oooohh' de descrédito.

Aí fiquei pensando: 'pô, estou neste auditório há quase uma hora exibindo minha inteligência, e a única coisa que provocou uma reação calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho?

Onde é que nós estamos?

Onde, não sei, mas estamos correndo atrás de algo caquético chamado 'juventude eterna'.

Estão todos em busca da reversão do tempo.

Acho ótimo, porque decrepitude também não é meu sonho de consumo, mas cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sozinhas.

Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas de senhoritas, mesmo em idade avançada.

A fonte da juventude chama-se 'mudança'.

De fato, quem é escravo da repetição está condenado a virar cadáver antes da hora.

A única maneira de ser idoso sem envelhecer é não se opor a novos comportamentos, é ter disposição para guinadas.

Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos.

Mudança, o que vem a ser tal coisa?

Minha mãe recentemente mudou do apartamento enorme em que morou a vida toda para um bem menorzinho.

Teve que vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras, que havia guardado e, mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e simplificada, rejuvenesceu.

Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos.

Rejuvenesceu.

Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou um baita emprego por um não tão bom, só que em Florianópolis, onde ela vai à praia sempre que tem sol.

Rejuvenesceu.

Toda mudança cobra um alto preço emocional.

Antes de se tomar uma decisão difícil, e durante a tomada, chora-se muito, os questionamentos são inúmeros, a vida se desestabiliza.

Mas então chega o depois, a coisa feita, e aí a recompensa fica escancarada na face.

Mudanças fazem milagres por nossos olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna.

Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem, só que continuará opaco porque não existe plástica que resgate seu brilho.

Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar.

Olhe-se no espelho..."




terça-feira, 26 de julho de 2011

Confissões De Uma Garota De Programa (The Girlfriend Experience, EUA, 2009)


A psicanálise se interessa por todas as manifestações do psiquismo, especialmente as artísticas. Quem já não ouviu dizer que a arte imita a vida? Além de divertir e emocionar, o cinema nos apresenta uma diversidade de experiências humanas com as quais podemos aprender e amadurecer. Por isso, sempre que possível, escreverei e publicarei resenhas de filmes que achar interessantes.

CONFISSÕES DE UMA GAROTA DE PROGRAMA

O que podemos esperar de um filme com o título “Confissões de uma Garota de Programa” e cuja atriz principal é uma estrela de filmes adultos? Muita nudez regada por cenas de sexo acrobático e pirotécnico? Certo? Errado. Definitivamente, o foco do filme não é a prostituição.

Contando a vida pessoal e profissional de Chelsea, a garota de programa de luxo que atende homens da alta sociedade de Manhattan, interpretada pela estrela de filmes eróticos Sasha Grey, Steven Soderbergh, diretor de “Onze Homens e Um Segredo”, “Traffic”, “Sexo, Mentiras e Videotape”, parece querer mesmo nos fazer refletir sobre as relações humanas e o poder do dinheiro na sociedade capitalista em que vivemos.

Chelsea é a garota de programa perfeita. Jovem, bonita, discreta, bem vestida, educada. Perspicaz, ela sabe que o cliente não a quer como de fato é - por isso, se transforma na mulher que cada um deles deseja. Oferece mais do que prazer. Sexo parece ser apenas um item do pacote, talvez nem o mais importante. Ela ouve os problemas dos clientes, pergunta sobre as esposas e os filhos, ri das piadas, troca ideias sobre o filme assistido e, sobretudo, conversa com eles sobre dinheiro. Não à toa. Na época da filmagem, o país se encontrava às vésperas da última eleição presidencial, momento em que a instabilidade financeira passou não só a assustar como também a afetar a classe alta da sociedade norte-americana. Todos, no fundo, republicanos ou democratas, estão preocupados em ganhar mais dinheiro e manter o elevado padrão de vida. A própria Chelsea investe pesado em seus negócios para aumentar a clientela na tentativa de se transformar em um artigo de luxo cada vez maior. Ela aparece em algumas cenas pedindo a ajuda de um especialista em informática para dar mais visibilidade ao seu site. Chega, inclusive, a sair com um cliente asqueroso que, em troca de sexo, se compromete a publicar na internet uma crítica positiva sobre ela e os serviços prestados.

Chris, namorado de Chelsea, é personal trainer de uma academia e tem ambições de abrir um negócio próprio. Ele aceita com naturalidade a profissão da amada. Sua mentalidade capitalista faz crer que os fins justificam os meios. Apenas não admite que Chelsea se envolva emocionalmente com nenhum cliente. É o que acontece ou, pelo menos, parece acontecer.

O filme não segue uma narrativa cronológica. Presente, passado e futuro se misturam. Para olhos desavisados e acostumados aos padrões hollywoodianos, o drama pode parecer frio e insosso. Desde o começo da película, quando filma o encontro da garota com o primeiro cliente, a câmera jamais se aproxima do corpo da atriz nem de seu acompanhante, dando preferência aos objetos. No final desta sequência, por exemplo, ganham destaque duas taças de vinho tinto emoldurando o contato sexual do casal. Mas existe uma coerência e um objetivo por trás deste recurso cinematográfico escolhido por Soderbergh. Vivemos em uma sociedade capitalista, realizadora de desejos, em que tudo é transformado em mercadoria, objeto de consumo e gozo, inclusive as pessoas. E é justamente isto que o diretor parece querer mostrar: numa época marcada pela inversão de valores, os relacionamentos humanos se tornam frios, frágeis e vazios.

Enfim, sem dúvida alguma, o filme vai além das aparências e merece ser visto.



   

terça-feira, 19 de julho de 2011

Você sabe quanto do seu peso é emocional?



Você sabe quanto do seu peso é emocional?


Saiba o que Stéphane Clerget, autor do livro “Les Kilos émotionnels”, diz sobre a influência de nossas emoções no ganho de peso

Renata Losso, especial para iG São Paulo / 02/02/2010 17:34

Você pode ter vontade de sobra, mas se algumas emoções, como a ansiedade e a culpa, por exemplo, permanecerem em sua vida, emagrecer se tornará uma tarefa quase impossível. Conversamos com o psiquiatra francês Stéphane Clerget, autor do livro “Les Kilos émotionnels - Comment S'en Libérer Sans Régime Ni Médicaments" (“Os Quilos emocionais - Como se liberar sem regime nem medicamentos”), editora Albin Michel, ainda inédito no Brasil, e descobrimos que não basta somente o entusiasmo: é preciso estar com os sentimentos em dia.

iG Quais são as principais emoções que podem nos fazer engordar?

Stéphane Clerget Todas as emoções, em seus diferentes graus, podem interferir em nosso ganho ou perda de peso. Na maioria das vezes, a preocupação, a raiva contida, a tristeza, a ansiedade, o sentimento de vazio e a culpa colaboram para isso, mas há casos em que as emoções positivas, como a alegria, também contribuem. Além disso, não podemos nos esquecer dos conjuntos emocionais mais complexos, como o estresse, a falta de confiança em si, a falta de autoestima e a depressão.

iG De que maneira as nossas emoções podem influenciar em nosso peso?

Stéphane Clerget As emoções nos fazem engordar levando-nos a comer mais ou modificando a natureza do que comemos, nos levando a exagerar em alimentos mais açucarados ou a abdicar de diferentes temperos, por exemplo, o que pode variar de acordo com nosso humor. Elas também nos fazem engordar por modificarem nosso nível de atividade e de consumos energéticos: a tristeza, por exemplo, nos deixa menos fisicamente ativos. Por outro lado, surpreendentemente, as emoções também podem aumentar o nosso peso por meio da estocagem de gorduras, como se a pessoa “tirasse maior proveito” do que come.

iG As emoções atuam diferentemente nos homens e mulheres e em suas relações com a comida?

Stéphane Clerget Mesmo que algumas emoções se encontrem mais habitualmente em um homem ou mulher, elas são comuns a ambos os sexos. Entretanto, razões hormonais e culturais fazem com que homens e mulheres reajam de maneira distinta frente a diferentes sentimentos emocionais. Desta maneira, diante de uma frustração, os homens liberarão mais facilmente suas emoções, tomando atitudes em relação a elas, e as mulheres irão interiorizá-las, assumi-las. Claro, mas não é algo evidente, não acontece com todos.

iG Porque emagrecer é tão difícil para algumas pessoas e tão fácil para outras?

Stéphane Clerget Quando a alimentação é a única fonte de prazer de uma pessoa, não se deve pedir a ela que renuncie a comida enquanto não tiver acesso a novas possibilidades de prazer. Em algumas pessoas, há uma real vontade de emagrecer, mas existem obstáculos interiores, dos quais não há nem mesmo consciência e que são ainda mais fortes do que a própria vontade. Em outras, é muito fácil perder peso porque elas sabem se restringir violentamente, mas é algo de curta duração: o sobrepeso retorna assim que elas relaxam.

iG Diante da função da emoção no ganho de peso, os regimes podem se tornar inúteis?

Stéphane Clerget Qualquer que seja o tipo de regime, ao final de cinco anos, 90% das pessoas retoma seu peso original ou maior. Portanto, o regime por si só é inútil. Mas a escolha dos alimentos não deixa de ser importante, porque eles possuem um impacto emocional sobre o indivíduo. As pessoas que fazem dieta devem ter o sentimento de que o que elas comem é bom para elas e devem sentir um prazer verdadeiro ao comê-los. Obrigar-se a emagrecer sem nenhum tipo de prazer não é eficaz a longo prazo.

iG O que pode ser feito para evitar que as emoções, principalmente a ansiedade, influenciem tanto no que comemos?

Stéphane Clerget A ansiedade pode surgir devido a fatores genéticos e fatores adquiridos pelo entorno. Esses fatores representam mecanismos de defesa psíquicos que aprendemos a colocar em prática durante o desenvolvimento da emoção. É necessário retornar às fontes de nossa ansiedade para poder pesquisar e encontrar seus determinantes a fim de abandoná-los. Uma pessoa pode possuir uma ansiedade, por exemplo, que foi repassada pela avó que a educou, e acreditar que esta ansiedade é realmente dela, e não adquirida de outra pessoa.

iG Quantos quilos por ano alguém pode engordar devido a problemas emocionais?

Stéphane Clerget Não há limite para o inconsciente. O sobrepeso ocasionado por fatores emocionais pode tornar-se também a origem de um mal-estar mais profundo e, num círculo vicioso, ocasionar outros quilos emocionais.





sexta-feira, 10 de junho de 2011

Amar é punk

O Dia dos Namorados se aproxima. Trocar presentes é gostoso, mas o melhor mesmo é vivenciar o amor. Amar é um aprendizado. Amar se aprende amando, errando e acertando. Amar tem tudo a ver com maturidade emocional.

Muitos já escreveram sobre o amor. Eu escolhi trazer para vocês o vídeo e o texto de Fernanda Mello. Puro encantamento.



AMAR É PUNK

Eu já passei da idade de ter um tipo físico de homem ideal para eu me relacionar. Antes, só se fosse estranho (bem estranho). Tivesse um figurino perturbado. Gostasse de rock mais que tudo. Tivesse no mínimo um piercing (e uma tatuagem gigante). Soubesse tocar algum instrumento. E usasse All Star.

Uma coisa meio Dave Grohl.

Hoje em dia eu continuo insistindo no quesito All Star e rock´n roll, mas confesso que muita coisa mudou. É, pessoal, não tem jeito. Relacionamento a gente constrói. Dia após dia. Dosando paciência, silêncios e longas conversas. Engraçado que quando a gente pára de acreditar em “amor da vida”, um amor pra vida da gente aparece. Sem o glamour da alma gêmea. Sem as promessas de ser pra sempre. Sem borboletas no estômago. Sem noites de insônia. É uma coisa simples do tipo: você conhece o cara. Começa, aos poucos, a admirá-lo. A achá-lo FODA. E, quando vê, você tá fazendo coraçãozinho com a mão igual uma pangaré. (E escrevendo textos no blog para que ele entenda uma coisa: dessa vez, meu caro, é DIFERENTE).

Adeus expectativas irreais, adeus sonhos de adolescente. Ele vai esquecer todo mês o aniversário de namoro, mas vai se lembrar sempre que você gosta do seu pão-de-sal bem branco (e com muito queijo). Ele não vai fazer declarações românticas e jantares à luz de vela, mas vai saber que você está de TPM no primeiro “Oi”, te perdoando docemente de qualquer frase dita com mais rispidez.

Ah, gente, sei lá. Descobri que gosto mesmo é do tal amor. DA PAIXÃO, NÃO. Depois de anos escrevendo sobre querer alguém que me tire o chão, que me roube o ar, venho humildemente me retificar. EU QUERO ALGUÉM QUE DIVIDA O CHÃO COMIGO. QUERO ALGUÉM QUE ME TRAGA FÔLEGO. Entenderam? Quero dormir abraçada sem susto. Quero acordar e ver que (aconteça o que acontecer), tudo vai estar em seu lugar. Sem ansiedades. Sem montanhas-russas.
Antes eu achava que, se não tivesse paixão, eu iria parar de escrever, minha inspiração iria acabar e meus futuros livros iriam pra seção B da auto-ajuda, com um monte de margaridinhas na capa. Mas, CARAMBA! Descobri que não é nada disso. Não existe nada mais contestador do que amar uma pessoa só. Amar é ser rebelde. É atravessar o escuro. É, no meu caso, mudar o conceito de tudo o que já pensei que pudesse ser amor. Não, antes era paixão. Antes era imaturidade. Antes era uma procura por mim mesma que não tinha acontecido.

Sei que já falei muito sobre amor, acho que é o grande tema da vida da gente. Mas amor não é só poesia e refrões. Amor é RECONSTRUÇÃO. É ritmo. Pausas. Desafinos. E desafios.

Demorei anos pra concordar com meu querido (e sempre citado) Cazuza: “eu quero um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida”. Antes, ao ouvir essa música, eu sempre pensava (e não dizia): porra, que tédio!

Ah, Cazuza! Ele sempre soube. Paixão é para os fracos. Mas amar - ah, o amor! - AMAR É PUNK



segunda-feira, 6 de junho de 2011

Adoro namorar. Mas só um pouquinho.



Para eles, o namoro só tem graça antes de virar vida real.

Na semana em que se comemora o dia dos namorados, é comum alguns pacientes se perguntarem porque estão sós ou porque seus relacionamentos duram tão pouco. Muitos são os fatores envolvidos nesta questão emocional e a história de cada um, que é única e intransferível, deve ser avaliada com os cuidados e "ouvidos" necessários. A matéria abaixo de Danielle Nordi, publicada no site IG, nos ajuda a começar a pensar sobre o assunto.

Eles se apaixonam, mas o encantamento acaba e a relação não engata. Será que os viciados em início de namoro desistem cedo demais? (Danielle Nordi. iG São Paulo
31/05/2011 07:46)

Quem não gosta das sensações que o começo de uma relação proporciona? São trocas de olhares, friozinho na barriga, beijos apaixonados e sempre uma novidade a ser descoberta no dia seguinte. Todos que já namoraram sabem que estas situações são típicas do início do relacionamento. Com o passar do tempo, as novidades passam a ser mais escassas. O relacionamento ganha outras características e vantagens, mas o dia a dia obriga o casal a se esforçar para que a relação não esfrie.

Para algumas pessoas, no entanto, a fase seguinte à da paixão não interessa. Especialistas sugerem que a fase do frio na barriga dura pouco mais de 18 meses. Mas a psicoterapeuta de casal e família Margarete Volpi diz que a fase do “encantamento” é ainda mais curta. “A gente fica enamorado, aquele período de excitação com as novidades, por cerca de seis meses apenas”, afirma.

A impossibilidade de ter relacionamentos duradouros não pode ser explicada da mesma forma para todas as pessoas, mas especialistas dizem que algumas razões são mais comuns. Margarete explica que, quando a fase de encantamento passa, a realidade aparece. Este é o momento em que se percebe que as expectativas que se tem em relação ao outro nem sempre são alcançadas. “Isso gera uma grande frustração, que é um sentimento negativo e esbarra na nossa autoestima. A gente quer mudar a outra pessoa em função de nosso bem-estar. Quando isso não acontece, eu me frustro e não me sinto bom o suficiente para conseguir vencer este desafio”, esclarece Margarete.

Prazo de validade curto

O administrador de empresas Romulo Magalhães, 24, diz que suas relações têm “prazo de validade” muito bem definido: “fico com a mesma pessoa por dois meses”, afirma. A troca de namoradas é tão constante que seus amigos vivem fazendo apostas para tentar acertar quanto tempo o próximo relacionamento vai durar.

“Eu gosto do início do namoro. Depois de um mês, a química vai acabando e aí é só uma questão de dias para que termine. É como se fosse um brinquedo novo que depois de um tempo não tem mais graça”, diz Romulo.

A terapeuta de casal e família Lana Harari explica que tudo que é novo tem grande apelo. Segundo ela, em época de consumismo exacerbado em que objetos se tornam descartáveis rapidamente, as relações adquirem o mesmo status. “Muita gente quer apenas o prazer da novidade. Obviamente, com o tempo, ficamos familiarizados com o parceiro. Isso é inevitável. Nesta etapa, muitas pessoas desistem da relação e partem para a busca de algo inédito novamente”.

Romulo conta que já teve duas relações longas, mas porque via benefícios que compensavam a sua intolerância a sentir-se preso a uma pessoa. “Eu gostava das minhas ex-namoradas. Uma delas eu via todos os dias, e ficamos juntos onze meses. Com a outra, fiquei um ano e meio. Nossa vida sexual era muito boa. Havia essa compensação”, diz.

O administrador conta que, apesar de “mulherengo”, sempre foi fiel. Ele se diz contraditório quando o assunto é maturidade para manter longos relacionamentos. “Sou maduro para saber que nem todos os dias do namoro vou acordar perdidamente apaixonado. Mas, ao mesmo tempo, imaturo, já que não tenho paciência de passar por isso. Eu sempre penso em terminar e buscar novamente uma outra conquista.”

Curto, intenso e verdadeiro

“O início do namoro é maravilhoso. A gente se sente feliz. Achamos que aquela pessoa vai ser sempre linda, doce e simpática como no dia em que a conhecemos”, relata o ator e estudante de Publicidade e Propaganda Rodrigo Rott, 19.

O grande problema para Rodrigo é a rotina. Para ele, aquela sensação de que tudo vai ser lindo para sempre acaba. Os sentimentos se desgastam, as belezas vão enjoando e a rotina deixa tudo chato e monótono, afirma. Seus namoros não costumam passar dos quatro meses de duração. “Eu sou uma pessoa fanática por mudanças. Não consigo gostar de coisas que são sempre iguais. Mas o fato dos meus relacionamentos serem curtos não significa que não sejam intensos e verdadeiros”, ressalta.

De acordo com Mariuza Pregnolato, psicóloga clínica especialista em terapia comportamental cognitiva pela Universidade de São Paulo (USP), quem gosta de enfrentar novos desafios com frequência pode ter problemas com a estabilidade de um relacionamento duradouro. “Quando a gente se apaixona, não é pela pessoa, que mal conhecemos. Nós idealizamos alguém e, com o passar do tempo, as diferenças aparecem. É preciso abrir mão de muita coisa. Ao invés de passar por essa fase, fica mais atraente partir para outro desafio, outra conquista.”

A arquiteta da informação Patrícia Rez, 30, também dificilmente passa dos quatro meses de namoro. “Gosto do começo da relação porque tudo é muito incerto, a gente não sabe o que vai acontecer no dia seguinte. Quando fica definido o namoro, parece que perde a graça.” Ela diz ainda que procura as pessoas erradas. “Normalmente me interesso por quem mora longe. A distância acaba atrapalhando e aí eu faço outra viagem e conheço novas pessoas. Tudo isso é mais ou menos um padrão, que venho tentando quebrar.”

“Através de um trabalho de autoconhecimento, que é o que a terapia propõe, a pessoa consegue ver onde está a barreira que torna seus relacionamentos curtos. É preciso querer mudar para que isso efetivamente ocorra”, explica Lana Harari.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Casa Arrumada

O texto abaixo é de Lena Gino. Vale a pena ler e pensar sobre nossas "bagunças" internas e externas e em como lidamos (ou não) com elas.

"Casa arrumada é assim:

Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.

Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.

Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas...

Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:

Aqui tem vida...

Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.

Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.

Sofá sem mancha?

Tapete sem fio puxado?

Mesa sem marca de copo?

Tá na cara que é casa sem festa.

E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.

Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.

Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante, passaporte e vela de aniversário, tudo junto...

Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.

A que está sempre pronta pros amigos, filhos...

... netos, pros vizinhos...

E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.

Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente!

Arrume a sua casa todos os dias...

Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...

E reconhecer nela o seu lugar ".

"O caminho de cada um é feito pelos próprios passos, mas a beleza da caminhada depende dos que vão conosco." (Autor Desconhecido)




sábado, 23 de abril de 2011

Feliz Páscoa!




Páscoa é ser capaz de mudar;

É partilhar a vida na esperança;

É lutar para vencer toda sorte de sofrimento;

É ajudar mais gente a ser gente;

É viver em constante libertação;

É crer na vida que vence a morte;

É dizer sim ao amor e à vida;

É investir na fraternidade;

É lutar por um mundo melhor;

É vivenciar a solidariedade;

É renascimento, é recomeço;

É uma nova chance para melhorarmos as coisas que não gostamos em nós;

É vermos que hoje somos melhores do que fomos ontem.

(Autoria desconhecida)

terça-feira, 19 de abril de 2011

Por que Príncipes Viram Sapos



Nos contos de fadas, a princesa beija um sapo que se transforma em um belo príncipe. Muitas vezes, na vida real, a mulher leva o príncipe para casa e acorda com um sapo-boi, enorme e verruguento ao seu lado. Onde foi parar o príncipe? Será que pegou seu cavalo branco e deu no pé?

Bom, já está mais do que na hora de nossas fantasias irem para o brejo. Acorde Bela Adormecida! A verdade é que a princesa não é tão princesa assim nem o príncipe existe e muito menos é tão educado, inteligente, elegante e bondoso como imaginamos, ou melhor, como desejamos.

O texto abaixo é do psicanalista Flávio Gikovate e nos ajuda a entender porque o "encantamento" a dois não dura para sempre.

Por que Príncipes Viram Sapos

 
Para entender por que nos decepcionamos com o ser amado, é preciso conhecer o processo de namoro: saber o que leva a nos encantarmos sentimentalmente com alguém. O que faz uma pessoa até há pouco tempo desconhecida se tornar tão indispensável para nós que não imaginamos mais a vida sem ela? Não há como responder integralmente a essa pergunta, mas algumas conclusões parciais podem ser úteis para cometermos menos erros.

Em primeiro lugar, as pessoas se envolvem porque se acham incompletas. Se todos nós nos sentíssemos “inteiros” em vez de “metades”, não amaríamos, pois o amor é o sentimento que desenvolvemos por quem nos provoca aquelas sensações de aconchego e de algo completo que não conseguimos ter sozinhos. A escolha do parceiro envolve variáveis intrigantes, que vão do desejo de nos sabermos protegidos à necessidade de sermos úteis ou mesmo explorados.

A aparência física ocupa um papel importante nesta fase, sobretudo nos homens, que são mais sensíveis aos estímulos visuais. Muitos registram na memória figuras que os impressionaram e que servem de base para criar modelos ideais, com os quais cada mulher é confrontada. Pode ser a cor dos olhos, dos cabelos, o tipo de seio ou de quadril. São elementos que lembram desde suas mães até uma estrela de cinema. As mulheres também selecionam indicadores do homem ideal: deve ser esbelto ou musculoso, executivo ou intelectualizado, voltado para as artes e assim por diante. Todos esses ingredientes incluem elementos eróticos e se transformam, na nossa imaginação, em símbolos de parceiros ideais. De repente, julgamos ter encontrado uma quantidade significativa de tais símbolos naquela pessoa que passou pela nossa vida. E nos apaixonamos.

A fase de encantamento, no entanto, se fundamenta não só em aspectos ligados à aparência, mas também no que há por dentro. No entanto, uma outra situação pode ocorrer: conversamos com quem nos chamou a atenção e, devido à atração inicial e ao nosso enorme desejo de amar, tendemos a ver no seu interior as afinidades que sempre quisemos que existissem naquele que nos arrebata o coração.

Por exemplo: um rapaz franzino e intelectualizado é visto como emotivo, romântico, delicado, respeitoso e pouco ciumento. A moça se encanta com ele e espera que ele seja portador dessas qualidades. A isso chamamos idealização: acreditar que o outro tem características que lhe atribuímos. Sonhamos com um príncipe encantado – ou com uma princesa ideal – e projetamos todos os nossos desejos sobre aquela pessoa. E, quando passamos a conviver com ela, esperamos as reações próprias do ser que idealizamos.

Mas o que ocorre? É o indivíduo real que vai reagir e se comportar conforme suas peculiaridades. E é muito provável que nos decepcionemos – não exatamente por causa de suas características, mas porque havíamos despejado sobre ele fantasias de perfeição.

O erro nem sempre está no parceiro, e sim no fato de termos sonhado com ele mais do que prestado atenção no que ele realmente é. Eis aí um bom exemplo dos perigos derivados da sofisticação da mente, capaz de usar a imaginação de uma forma tão livre que a realidade jamais conseguirá alcançá-la. (Flávio Gikovate)






segunda-feira, 4 de abril de 2011

A IMPORTÂNCIA E A NECESSIDADE DA PRESENÇA FÍSICA



Vivemos na época dos relacionamentos virtuais, mas a web não substitui o contato físico. O texto abaixo é da autoria do psicanalista Jorge Forbes e fala sobre a necessidade e a importância da presença física.


PRECISO DE VOCÊ


"Cada pessoa precisa de alguém que o ajude a chamar o seu êxtimo, de meu íntimo".

A jornalista me pergunta impressionada a razão de novas pesquisas constatarem que, contrariamente ao que muitos esperavam, o povo da internet cada vez mais associa seus passeios na rede com a necessidade de estar junto. Esse fato relativiza as críticas morais que bradam ameaçadores avisos anunciando que o mundo estaria perdido, pois a www - World Wide Web – seria uma teia perigosíssima que estaria aprisionando nossa pobre juventude, em um isolacionismo narcisista e emburrecedor.

Essa notícia chega ao mesmo tempo em que o Papa se precipita em condenar um aplicativo para smart-phones, através do qual o fiel antenado se confessaria on line, sem a necessidade de se ajoelhar na madeira dura de um confessionário escurecido por muitos pecados ali penitenciados. Ao menos dessa vez, ufa!, o Papa mostrou que “tá ligado”, pois a web não substitui a presença física.

Na mesma vertente, podemos falar da repetitiva pergunta se é possível fazer análise por skype, ou serviço semelhante, sem ter que se preocupar com o terrível trânsito das grandes cidades, bem como se garantir em ter seu analista à mão, ou melhor, na tela, entre um mergulho e outro, em uma ilha paradisíaca, do outro lado do mundo.

Não dá. Há um quê na presença física que é insubstituível. E se dizemos “um quê” é exatamente pelo fato de não podermos precisar o que é isso da presença física que não sabemos traduzir em nenhum idioma e por nenhum meio, razão pela qual não a podemos substituir, pois, como celebrou Michel Foucault: “a palavra é a morte da coisa”; se falamos de algo, substituímos o algo pela palavra e não precisamos mais dele.

Em um mundo que quebrou os paradigmas cartesianos de espaço e tempo, jogando-nos no furacão do ilimitado sem fronteiras, não há nada a estranhar na necessidade da presença física do outro, do corpo do outro, do seu enigma, do cheiro, cor, som, movimento, textura, olhar, que não sabemos traduzir em bytes. Esse enigma do outro é o remédio para a angústia tão atual, por nos termos visto transformar em habitantes de lugar nenhum.

Seis mil moças e moços geeks se acotovelaram por uma semana, em São Paulo, em uma festa chamada Campus Party. Seis mil!, em um pavilhão de exposições. É tão importante estarem juntos, que um nipo-brasileiro, morando ao lado do local da festa, trocou o conforto de seu quarto, por uma tendinha de campanha, verdadeiro elogio do desconforto.

A presença do outro nos remete ao mais essencial de nós mesmos. Se fôssemos honestos, parodiando Vinícius, jamais diríamos expressões do gênero: “no meu íntimo”. E isso porque o que nos escapa é exatamente o nosso íntimo. Diríamos, melhor, com Lacan: “no meu êxtimo”, sim, porque o meu íntimo me é tão estranho – quem já passou por uma análise sabe bem o que estou descrevendo – que melhor chamá-lo de êxtimo, clara alusão ao estranho e ao externo de si mesmo, que habita cada um.

Podemos nos livrar de muita coisa na vida, mas não da gente mesmo, em especial desse ponto íntimo desconhecido, promotor de nossas paixões, essa força estranha vivida na sensação do “mais forte que eu”. A presença física do amigo, do amado, do familiar, do próximo, nos reconecta com esse ponto fundamental, âncora de nossas existências, ponto transcendente de nossa imanência, se quisermos nos valer do discurso da Academia.

Nesse mundo de aparente tudo pode, e de em tudo estou, não por isso devemos nos assustar que ao lado do aumento dos acessos aos meios virtuais, vejamos crescer em paralelo os lugares de encontro físico, sejam eles campus parties, igrejas, consultórios, bares, cruzeiros. Os motivos são variados e o que neles se realiza, também, mas a necessidade é uma só: estar junto. Na era da pós-modernidade, onde o laço social das identificações é predominantemente horizontal, nos damos conta que o principal afeto, o mais fundamental afeto, é o da amizade. Cada pessoa precisa de alguém que o ajude a chamar o seu êxtimo, de meu íntimo. (Jorge Forbes)


(artigo publicado na revista Psique nº 63, março 2011)


terça-feira, 15 de março de 2011

10 Mitos Sobre A Psicanálise


 Texto de Silvana Tavano

O paciente fala deitado no divã e o analista só escuta, sentado numa poltrona confortável. Clichê no cinema, a cena nem sempre é exatamente essa nos consultórios. Aqui, toda a verdade sobre o folclore que envolve essa relação tão delicada.

Todas as terapias têm a mesma meta: lidar com a angústia e com o sofrimento, ajudando o paciente a ser mais feliz e a encontrar um sentido para a vida. Mas cada modalidade busca esses objetivos a sua maneira. Em alguns casos, a pessoa vai dramatizar e reviver situações pelas quais passou; em outros, vai tentar desatar nós desbloqueando tensões físicas. Na psicanálise, a fala é o fio condutor de um processo de autoconhecimento.

Tudo começou com Freud, no início do século passado: ao receber pacientes que já tinham consultado todos os médicos de Viena, sem sucesso. Freud percebeu que o ato de falar, sendo ouvido por alguém, era terapêutico. Mais do que isso, esse discurso podia trazer à tona conflitos que estavam em outro lugar além da mente racional, a esse lugar ele deu o nome de inconsciente. "Uma parte da mente a qual não temos acesso, mas que é capaz de produzir efeitos, como neuroses, angústias e sintomas físicos", explica a psicanalista Mania Deweik, de São Paulo.

A seguir, três especialistas falam sobre os mitos que cercam o assunto, mostrando que muito do que se diz sobre a psicanálise é um exagero.

1- O psicanalista nunca fala durante a sessão

“Eu falo e escuto, ensino, aprendo e também me divirto com meus pacientes", diz a psicanalista Mania Deweik. Segundo ela, talvez esse mito tenha surgido quando a obra de Freud foi traduzida do alemão para o inglês. "Ele escrevia de maneira literária, inspirava-se nos poetas, na tragédia grega, e seus discípulos ingleses entenderam que era preciso dar uma forma mais científica à sua teoria. Esse pode ter sido um dos fatores que contribuíram para a ideia de neutralidade.”

Na prática, existem psicanalistas que mantêm uma atitude mais sisuda. "É uma questão de estilo pessoal. Tem quem seja mais reservado e há os que são expansivos. Mas isso não é uma regra da terapia", diz o psicanalista gaúcho David E. Zimerman.

2- Para ter resultado, é preciso fazer terapia durante muitos anos

Na época de Freud, os tratamentos terminavam em meses. Mas, ao longo das décadas, a psicanálise se desenvolveu como um processo que dura anos. Hoje a prática não corresponde a nenhuma das duas alternativas. "A psicanálise não pode ser definida como um tratamento breve, porque exige um tempo de elaboração, e esse tempo varia de pessoa para pessoa", diz a psicanalista Dulce Barras, de São Paulo. Na sua clínica, o usual é começar com duas sessões semanais, que podem se reduzir a uma, e o tratamento dura, em média, de três a cinco anos. Segundo Mania Deweik, o tratamento pode parecer longo para quem busca resultados imediatos contra a tristeza, o medo, a ansiedade. "Mas crescer não é um processo instantâneo. E, além disso, cada paciente tem sua história e seu ritmo", diz Mania.

3- A análise é um tratamento caro

A ideia de um tratamento elitizado, que só acontece entre quatro paredes e com um paciente pagando por infinitas sessões, já não corresponde à realidade. "A psicanálise está nas creches, nos postos de saúde e nas instituições de saúde mental", explica Mania Deweik O psicanalista David Zimerman afirma que a maioria das sociedades psicanalíticas mantém serviços ambulatoriais, com preços acessíveis à população. "Além disso, é normal analista e paciente conversarem e negociar a questão do dinheiro", diz Dulce Barros.

4- O paciente fala o tempo todo do passado, da mãe e do pai

É importante trazer do passado as situações que continuam a perturbar ou a se repetir no presente, mas isso não significa que a análise vai girar em torno disso. "O único passado que interessa é o que não foi suficientemente elaborado, isto é, entendido e aceito. Por isso, continua incomodando o paciente", explica Mania.

Segundo Zimerman, o assunto de cada sessão fica a critério do paciente. É comum que a pessoa fale sobre situações cotidianas, ligadas ao trabalho ou à família. Mas, através desses temas que fluem espontaneamente, muitas vezes é possível fazer uma conexão com situações similares que já aconteceram. "Essas associações trazem compreensão. É o que tecnicamente chamamos de 'insight'. Nesse momento, o paciente se dá conta de que está agindo de determinada maneira porque tende a reagir da mesma forma. São jeitos de se comportar ligados a traumas ou relacionamentos antigos", explica o psicanalista. Nas palavras de Dulce Barros, os fatos imediatos são uma consequência do passado. "Na análise, a pessoa percebe que existe esse processo de repetição e que isso só termina quando há uma compreensão do que aconteceu.”

5- Tudo o que a pessoa faz tem a ver com sexo

Segundo David Zimerman, essa falsa crença tem origem no próprio Freud, que relacionava todas as angústias e sintomas a algum problema sexual. "Hoje essa visão se justifica só em certos casos. Na maioria das vezes, há outros aspectos a considerar e que são mais importantes do que as questões ligadas ao sexo", explica o psicanalista. A questão é que, para Freud, o conceito de sexualidade ia muito além do ato sexual genital, incluindo várias outras manifestações prazerosas. "Nesse contexto, o sexo não deve ser entendido como relacionamento homem-mulher, mas como todas as experimentações ligadas ao prazer", explica Dulce Barras.

6- Muitos pacientes se apaixonam pelo psicanalista

“Pode acontecer. Mas essa ‘paixão’ tem muitos coloridos, não só o do desejo sexual. Pode ser uma transferência da imagem da mãe, da amante, da competidora... Importante é que isso seja analisado como qualquer outra fantasia", explica Mania. Para Dulce, muitas vezes esse jogo de sedução esconde apenas uma outra forma de resistência. "O paciente imagina que, se encantar o médico, vai ser menos censurado." Nessa situação, o papel do psicanalista é decisivo. "Ele vai, sim, lidar com os sentimentos do paciente, mas não pode ficar envolvido com ele", explica Zimerman.

7- O paciente não pode saber nada sobre o seu psicanalista

Freud atendia em sua própria casa, sob o mesmo teto em que moravam os oito filhos, a mulher e a cunhada. Portanto, a ideia de total neutralidade do profissional não tem nada a ver com ele, mas com a interpretação que seus seguidores fizeram de sua teoria. "Acredito que é preciso estabelecer limites, mas existem formas de olhar para isso. Cabe ao analista definir até que ponto a curiosidade do paciente é normal e a partir de que momento isso se transformar em mais um problema a ser trabalhado", explica Zimerman. Em uma relação tão íntima, muitas vezes o paciente passa a ver seu analista como um amigo, com quem gostaria de, por exemplo, poder sair para tomar um café. "Mas é importante preservar a cumplicidade que se conquistou dentro do consultório. Por isso, a relação não deve mudar de formato", explica Mania, Segundo ela, não há hierarquia, mas o relacionamento não é de igual para igual. "Um fala e o outro escuta, as posições que as pessoas ocupam são diferentes. Essa não é uma relação entre amigos", conclui Mania.

8- É obrigatório deitar no divã

O que define a análise não é o divã, mas a escuta do analista. Todos concordam, porém, que o divã pode facilitar. "Freud atendia até 15 pessoas por dia. Não é fácil ficar submetido ao olhar do outro durante tanto tempo, tentando, ao mesmo tempo, captar o que aquela pessoa está dizendo", diz Mania. Apesar disso, os pacientes ficam à vontade para ocupar o espaço que desejam em seu consultório. Para o psicanalista David Zimerman, a pessoa fica livre para decidir. "Mas considero uma conquista do paciente quando ele decide fazer análise deitado. Isso apenas demonstra que ele sente confiança e não tem necessidade de tentar controlar seu analista", Isso também não é obrigatório para a psicanalista Dulce Barros, mas ela admite que a terapia flui mais tranquilamente com o paciente deitado. "Quem usa o divã geralmente está relaxado e menos defensivo.”

9- O psicanalista interpreta os sonhos

O sonho é um dos caminhos de acesso ao inconsciente e auxilia o trabalho de análise. "Mas é o paciente que traz associações relacionadas ao sonho", explica Dulce. O analista ajuda e estimula a pessoa a fazer as suas próprias interpretações. "Não se trata de um oráculo, alguém que está dizendo algo que o outro não sabe... Na prática, o analista só junta aquilo que o paciente está próximo de descobrir por si mesmo", explica Mania.

10- É muito fácil enganar o analista

Mesmo que o paciente minta, o analista tem como conduzir bem o tratamento. Na prática, isso não chega a ser importante, já que o analista não está preocupado com a veracidade dos fatos, mas com a forma como a pessoa conta suas verdades e também suas mentiras. "Mesmo que seja falsa, a história sempre vai ter a estrutura e o jeito de ser daquela pessoa. E isso é revelador", diz Mania. Para Zimerman, é importante que o analista assinale, em algum momento, que o paciente está mentindo para si mesmo em primeiro lugar.

COMO SABER SE ESTÁ FUNCIONANDO?

Ao longo do tempo, o paciente tem condições de saber se a terapia está surtindo efeito. "Quando a pessoa consegue mudar a realidade e percebe isso, ou se as coisas começam a dar certo no dia-a-dia, é possível associar essas situações a um tratamento bem sucedido", explica a psicanalista Dulce Barros. O inverso também vale: quando a vida não muda, talvez algo esteja errado. E esse algo pode ter a ver com o paciente ou com o terapeuta. Segundo os especialistas, é normal sentir um certo incômodo em alguns momentos e resistir às colocações do analista. Mas, se esses sentimentos persistem, é bom refletir sobre o que está acontecendo. "Quando não há empatia entre o paciente e o analista, por exemplo, o tratamento não evolui", explica a psicanalista Dulce.

Na prática, dá para se auto-avaliar a partir de situações cotidianas: o paciente que não falava em público de jeito nenhum pode comemorar como um grande passo o fato de enfrentar cinco minutos de exposição durante uma reunião de trabalho. "Da mesma forma, quem antes evitava conversar com qualquer autoridade, com medo de críticas, vai se sentir fortalecido quando puder encarar esses contatos com naturalidade, sem insegurança", explica Mania Deweik. Segundo ela, um dos bons efeitos da análise é fazer com que a pessoa se questione em cada situação, buscando saber por que reage de um jeito e não de outro.