domingo, 26 de maio de 2013

AS MULHERES SÃO MAIS BONITAS DO QUE ACREDITAM SER


A matéria abaixo foi publicada por Bruna Saniele no site do Terra (dia 26/05/2013). Leia o texto, assista ao vídeo e, principalmente, reflita sobre eles.
 
Publicidade: viral mais visto era "imprevisível", diz agência
 
Eles sabiam o fato: as mulheres não têm noção da própria beleza. Mas como elas iriam agir ao serem confrontadas com essa verdade era totalmente imprevisível. Mesmo assim, a empresa apostou e a equipe brasileira da agência Ogilvy embarcou para os Estados Unidos para gravar a propaganda considerada o maior viral da história.

O vídeo da marca Dove Real Beauty Sketches (Retratos da Beleza Real) atingiu 114 milhões de visualizações desde o dia 15 de abril e conseguiu mostrar, com delicadeza e sensibilidade, que as mulheres conseguem enxergar melhor a beleza da concorrência do que a delas mesmas.

"A gente sabia que as mulheres eram muito mais críticas com elas mesmas do que o mundo e começamos a trabalhar a ideia do retrato falado, entramos em contato com o artista. Mas quando fomos filmar não tínhamos ideia do que podia acontecer, não sabíamos o que podia sair desses retratos e qual seria a reação delas. Rolou um alinhamento planetário e deu tudo certo", diz Diego Machado, diretor de arte da agência.

No vídeo, um desenhista faz dois retratos de uma mesma mulher. Um com base na percepção da própria sobre seu rosto e outro com base na percepção de uma desconhecida. Em todos os desenhos, as mulheres viam em si mais rugas, mais olheiras e mais detalhes que as deixavam feias, pálidas, reprimidas, tristes.
 
As desconhecidas não viram tantos defeitos e seus retratos ficaram mais bonitos, iluminados, felizes. Ao serem confrontadas com os dois desenhos, as personagens do filme mesclavam a alegria de serem percebidas por outros de uma forma mais bonita do que esperavam e uma certa melancolia por viverem "cegas" por uma autoimagem destorcida.

A Unilever, proprietária da marca Dove, queria promover o renascimento da campanha da Beleza Real, que começou em 2003 e estava sem novidades. Para isso, pediu a proposta inovadora, que funcionasse universalmente. "A empresa pediu um projeto que resgatasse o conceito que estava perdendo um pouco do vigor criativo. Precisávamos de uma campanha grandiosa, que funcionasse na Índia, na China, no Brasil, mas que não tinha um formato específico", comenta o redator Hugo Veiga.
Após pesquisas, a agência pensou em utilizar o desenhista forense do FBI (polícia americana) Gil Zamora, que já havia participado de documentários e programas de TV, como o da apresentadora Oprah Winfrey. Com um processo de criação diferente, Zamora faz seus retratos falados quase como um terapeuta, com base em perguntas pessoais e sem olhar para a entrevistada. Assim, era a pessoa certa para descrever essas mulheres.

Gravada nos EUA, país escolhido por ser onde mora o desenhista, as escolhidas foram mulheres reais, selecionadas nas ruas de São Francisco, e que nunca tinham feito propaganda, com diferentes etnias e diferentes faixas etárias. Por não serem atrizes e por não ter um roteiro, a reação delas diante dos dois retratos era uma surpresa que poderia não ter o resultado esperado, segundo Machado.
 
"O vídeo superou as expectativas principalmente porque o filme é longo (três minutos) e na internet o que costuma funcionar é o humor. Esse é um projeto extremamente emocional, não esperávamos que fosse o mais visto no mundo em apenas um mês. Tocamos em um ponto bem sensível das mulheres e elas quiseram compartilhar com os amigos. Os homens também compartilharam muito, como forma de valorizá-las. O vídeo ainda nem passou em todos os países, ainda está começando, mas vamos pensar em uma forma de continuar com esse projeto", diz Veiga. 

terça-feira, 5 de março de 2013

(MINHA) ANÁLISE DO FILME ARGO






(MINHA) ANÁLISE DO FILME ARGO

" Todo homem é culpado do bem que não fez." (Voltaire)
 
Recentemente, vi Argo que ganhou o Oscar de melhor filme de 2013.

O longa metragem é baseado em uma história verídica. No final dos anos 70, o Irã está em ebulição com a chegada ao poder do aiatolá Khomeini e nas ruas de Teerã fervilham diversos protestos contra os americanos. Vale lembrar que os dois países disputavam o petróleo no Oriente Médio e que os EUA haviam ajudado a derrubar um presidente nacionalista iraniano democraticamente eleito para colocar em seu lugar um Xá (Reza Pahlevi), tirânico e “amigo” do Ocidente, que oprimiu o povo iraniano, ganhando depois o asilo político americano.

Em um destes protestos, a embaixada dos EUA é invadida, mas seis diplomatas americanos conseguem fugir e se refugiar na casa do embaixador canadense, onde vivem sigilosamente durante alguns meses enquanto a CIA estuda um meio de resgatá-los com segurança.

A melhor opção foi apresentada por Tony Mendes, espião especializado em resgates, que sugere, tendo em vista o sucesso de filmes como Guerra nas Estrelas e A Batalha do Planeta dos Macacos, simular a produção de um filme canadense de ficção científica (Argo) que usaria, como locação, as paisagens desérticas do Irã.

Para o sucesso da empreitada é preciso contar com a ajuda do produtor Lester Siegel (Alan Arkin) e do maquiador John Chambers (Jonh Goodman) que sabem como ninguém que Hollywood é uma fábrica de mentiras. Quem viu o filme deve se lembrar da frase: “Se você quer vender uma mentira, ponha a imprensa para vendê-la para você”.

Eu não estou aqui para dizer se o filme faz jus ao prêmio que recebeu nem para analisar a linguagem cinematográfica, a atuação dos atores, o estilo da narração e afins, porque não sou crítica de arte e não costumo meter o nariz onde não sou chamada.

Também não vim falar sobre as questões políticas abordadas, tão fortes que o anúncio do vencedor do Oscar foi feito, nada mais nada menos, pela primeira-dama dos EUA, Michele Obama, ao vivo, da Casa Branca. Não vou defender nenhum dos países envolvidos e culpar o outro, porque ninguém me parece santo nesta história.

Quero focalizar o meu olhar na conduta de Tony Mendes (Ben Affleck). Ele sabe que é responsável por aquelas seis pessoas e não as abandona, mesmo quando recebe ordens superiores para abortar o resgate e uma “justificativa patriótica plausível”. Qual a importância de seis vidas se o que está em jogo é o interesse de uma nação inteira? A morte dos reféns deixaria o país consternado, transformaria o Irã no grande vilão e justificaria uma “guerra santa”.

Tony é o herói anônimo, sem asas, capa ou super poderes. É o cara comum que pode estar na esquina da rua ou sentado ao nosso lado no vagão do metrô. Não é o cara perfeito que nunca erra e, assim como qualquer um de nós, tem medos, dúvidas, problemas familiares... Mas faz aquilo que é certo, ainda que todos ao redor ajam de maneira diferente. É o cara que devolve a mala cheia de dinheiro que encontrou; que não aceita suborno quando todos do escritório já encheram os bolsos das calças; que não trai a esposa mesmo sendo incentivado pelos amigos,experts no assunto; que, mesmo cansado, dedica horas do seu final de semana para atuar em projetos beneficentes...

Enfim, herói anônimo é aquele que compreende que é responsável pelo que faz ou deixa de fazer, pelo que diz ou omite. Sabe que não pode mudar o mundo, mas que pode mudar o mundo de alguém e não hesita em fazê-lo. Faz o certo sem esperar aplausos, méritos ou honrarias.

É a você, gente com G maiúsculo, que dedico este artigo. Eu acredito na vida porque acredito em você! E quanto ao resto? Ah, vai se ferrargo!

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Análise do Filme Cosmópolis


 
ANÁLISE DO FILME COSMÓPOLIS


“Cosmópolis” foi dirigido por David Cronenberg. Se a intenção do diretor – polêmico e talentoso – era causar certo estranhamento no espectador, então, pelo menos comigo, ele acertou o alvo em cheio. Saí da sala de exibição tomada por uma sensação de incômodo e sem saber, ao certo, a que história tinha assistido – de fato – na tela. Até senti vontade de pedir desculpas ao meu acompanhante por tê-lo feito enfrentar aquelas horas de angústia.

Para início de conversa, o protagonista da trama foi interpretado por ninguém menos que Robert Pattinson, famoso por viver o vampiro Edward na saga Crepúsculo. Faço questão de registrar que sua atuação foi muito convincente.

Baseado no romance homônimo de Don DeLillo, o filme conta a história de Eric Parker, um jovem milionário do ramo financeiro que decide cortar o cabelo, no bairro em que cresceu, bem no dia em que Manhattan vive um caos por causa da visita do presidente americano e pela ocorrência de numerosos protestos anticapitalistas.

Trancado em sua limusine branca – blindada e à prova de som – onde recebe pessoas quase tão bizarras como ele, Eric cruza a cidade atrás do barbeiro que conhece desde a infância.  O que vemos é um jovem robótico que – acostumado a viver em um microcosmo protegido onde controla tudo e todos – desconhece o mundo real, as pessoas e si próprio.

Eric simboliza o que o capitalismo tem de pior. Em uma das cenas, fica evidente a sua ganância e quanto o outro não lhe importa. Didi, consultora de arte, interpretada por Juliette Binoche, lhe oferece um Marc Rotko. Parker não se interessa pela obra de arte. É pouco. Ele quer comprar a “Capela Rotko” inteira, que pertence ao mundo.

Paranoico com sua saúde, Eric faz check- up todos os dias. É surreal a cena em que o médico examina sua próstata, enquanto ele conversa com uma analista de finanças. Ao receber o diagnóstico, o bilionário fica preocupado: sua próstata é assimétrica.

E é, justamente por não perceber a assimetria da vida por estar olhando o tempo todo para o próprio umbigo, que a decadência de Eric se torna possível.

A cartada final do filme se dá com o interessante diálogo entre Parker e Benno (Paul Giamatti), que quer assassiná-lo.

Na  minha opinião, Cosmópolis é bem mais do que uma crítica previsível ao capitalismo.  Trata-se de um filme atípico, totalmente diferente dos padrões hollywoodianos, que – com inteligência – tira o espectador do confortável lugar-comum e oferece uma fotografia dos dias sombrios em que vivemos.

Através de metáforas, ele abre espaço para muitas reflexões. E uma delas já bastaria para fazer o filme valer a pena: Qual é a sua limusine branca? Ou seja, em qual microcosmo você está aprisionado? No seu trabalho? No seu casamento? Na sua visão controladora e simétrica de mundo? Talvez esteja mais do que na hora de descer do carro...


domingo, 26 de agosto de 2012




EM QUEM ME TRANSFORMEI? DIVAGANDO SOBRE O FILME "A VIDA DE OUTRA MULHER".


Nada como um filme interessante e uma companhia agradável ao nosso lado, não é mesmo?

Recentemente, fui ao cinema para assistir ao filme 360, mas os ingressos estavam esgotados e acabei vendo A VIDA DE OUTRA MULHER (LA VIE D’UNE AUTRE). Gosto de pensar que o “invisível”, muitas vezes, nos leva para onde precisamos estar ainda que a gente não perceba.

O filme é uma produção francesa. Juliette Binoche – com a beleza e o talento de sempre – dá vida à protagonista Marie.

No início da história, Marie é uma jovem que mora em uma cidade pequena, onde ajuda a mãe (Danièle Lebrun) a cuidar do pai enfermo e inválido.

Aos 25 anos, conhece Paul (Mathieu Kassovitz), o grande amor de sua vida e consegue um emprego fabuloso, em Paris, como investidora.

De repente, Marie acorda com 41 anos sem saber quem é e onde está. Ela se assusta com a mulher que vê no espelho e com um menino na cozinha que a chama de mãe. Não se lembra de nada do que aconteceu na última década e meia. Desconhece Barack Obama e fica perplexa ao saber da morte de Michael Jackson. E, no decorrer da trama, vai ter que lidar com outras surpresas desagradáveis. Descobre que o pai morreu; que a mãe o abandonou doente para se casar com outro; que as duas não se falam mais e estão brigando na justiça. Também toma conhecimento de que é uma profissional rica e respeitada, mas que sua vida pessoal é um fracasso. Não tem amigas, vive um casamento em frangalhos e está se divorciando.

Clinicamente, apesar dos traumas vivenciados, a amnésia repentina da protagonista não me parece viável. Serve mais como uma metáfora que leva a várias interpretações possíveis. A minha leitura da trama é apenas uma delas. Mas será que não existe uma mais correta? Pouco importa. Vivemos em uma sociedade que busca soluções milagrosas, rápidas e prontas. Fico bastante feliz quando encontro situações que permitem o exercício da reflexão e onde as perguntas são mais importantes do que as respostas – afinal de contas – são elas que nos movem.

A gente cresce ouvindo que o tempo não corre; ele VOA. Pois é. Em um belo dia, temos 20 e poucos anos e, quando acordamos e nos damos conta, já temos 40 ou mais! E, muitas vezes, nesta viagem através do tempo, a bagagem é extraviada e o passageiro que subiu no voo não é o mesmo que desembarca.

É doloroso, mas não raro, chegar à idade adulta e perceber que a vida tomou um rumo indesejado. Pelo caminho, gradativamente, foram sendo abandonados os sonhos, os desejos, os valores, os ideais, as crenças, as esperanças e a vontade de mudar e construir um mundo melhor. Também se foi o corpo de outrora. E o que sobra é uma pessoa que mal reconhecemos. Quem é esse estranho em que me transformei? Onde foi parar aquele que me era tão familiar? O que fazer?

E, para piorar a situação, é comum encontrarmos outro ser esquisito, além de nós mesmos: o cônjuge. A rotina e as vicissitudes do casamento – muitas vezes – transformam os parceiros em grandes desconhecidos. Há casais que mal se falam, não se tocam e ignoram a cumplicidade do sexo. Vivem isolados cada qual em seu mundinho particular. É muito fácil se perder de quem se ama e culpar esta pessoa por não fazermos aquilo que queremos e que – no fundo – não fazemos por medo ou por alguma inabilidade qualquer.
Mais do que tudo, em minha opinião, o filme fala sobre a necessidade e a coragem de encontrar um caminho que nos leve a redescobrir quem somos e que permita reconstruir relações perdidas que ainda valem a pena. “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses”.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

"VIVER NÃO É PRECISO. CAMINHAR É PRECISO". - PENSANDO SOBRE O FILME ON THE ROAD (NA ESTRADA)




"VIVER NÃO É PRECISO. CAMINHAR É PRECISO."- PENSANDO SOBRE O FILME "ON THE ROAD" (NA ESTRADA) 

É terrível para um escritor ver sua inspiração partir sem dia e hora para voltar. E é terrível para qualquer ser humano não saber quem se é, não achar sentido na vida e fazer de sua existência uma grande página em branco.

Enganada pelo trailer empolgante e por meus próprios desejos inconscientes, fui ao cinema esperando ver um filme e assisti a outro completamente diferente. Fui surpreendida por uma história profunda, tocante e perturbadora. Vi um filme onde os atores estão totalmente entregues a seus personagens e cuja trama também é contada com o auxílio de uma trilha sonora antenada e por uma fotografia exuberante, marcada por cores quentes, enquadramentos em primeiro plano, closes invasivos que capturam a angústia existencial dos personagens e cortes precisos.

“On the Road” (Na Estrada) é um filme baseado no romance polêmico escrito por Jack Kerouac em 1957.

Sal Paradise (interpretado por Sam Riley), narrador da história, é um jovem escritor tentando decolar que, após a morte do pai, não consegue escrever.

Ao lado do amigo Dean Moriarty (brilhantemente interpretado por Garret Nedlund), Sal resolve atravessar os Estados Unidos, de Nova Iorque até o México.

Dean é o típico cara “porra-louca”. Dotado de uma fúria vital descontrolada, seduz todos a sua volta (Carlo, Marylou/Kristen Stewart, Camille/Kirsten Dunst). Sal também o segue e explica seu fascínio com as seguintes palavras: “E eu me arrastei como tenho feito toda a minha vida, indo atrás das pessoas que me interessam, porque os únicos que me interessam são os loucos, os que são loucos para viver, loucos para falar, que querem tudo ao mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam e não falam obviedades, mas queimam... queimam... queimam... como fogos de artifício em meio à noite”.

Muitos conflitos emocionais permeiam e intensificam o relacionamento entre os dois, inclusive questões paternas. Sal não superou a morte do pai e Dean não consegue encontrar o seu. No México, quando Sal adoece, Dean o abandona à própria sorte, mostrando sua incapacidade de ser solidário, de cuidar de quem quer que seja, inclusive de si mesmo. Quando ocorre a separação e a interrupção da travessia, Sal volta a escrever num momento de encontro consigo próprio.

Mais do que contar a história da geração “beat” embalada por álcool, drogas, sexo, liberdade desenfreada, jazz, Proust, James Joyce, Rimbaud e cujo lema era “live fast, die young”, o filme aborda uma questão universal: a busca de cada um de nós pelo autoconhecimento e de um sentido da vida, além do modo pelo qual lidamos (ou não) com a angústia, o desamparo e o desconforto de viver.

Qual a moral da história? Que cada um se vire e encontre a sua, porque viver bem tem um significado distinto para cada pessoa. Para uns, pode ser viver alucinadamente com o coração sempre saltando pela boca. Eu acredito que viver bem é, acima de tudo, viver a verdade: A SUA VERDADE.

Felizes aqueles que percorrem as estradas da vida honrando cada quilômetro; aqueles que, apesar dos desvios e das rotas tortas, sabem que a travessia é muito mais importante do que a chegada e que, sobretudo, não deixam de dar carona às oportunidades que os deixam cada vez mais próximos de quem, de fato, querem ser.

Boa viagem! Pé na estrada!
           

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

FICAR MAGRA NÃO RESOLVE TUDO

A história se repete com frequência. Ouço o mesmo desejo nos lugares mais variados — supermercados, salões de beleza, academias de ginástica, universidades... Mulheres de várias idades e diferentes tipos físicos querem a mesma coisa: emagrecer. Muitas conseguem  atingir o objetivo, mas descobrem que a felicidade não vem de brinde
Ficar magra não resolve tudo
Muitas pessoas desejam tanto ser magras que depositam nisso a solução para todos os seus problemas. Mas não é bem assim.
Matéria publicada por Danielle Nordi,  site iG São Paulo | 09/07/2011 07:06

 “Quando eu emagrecer, todos os homens do mundo vão olhar pra mim e vou arrumar um emprego incrível. Todos os meus problemas vão desaparecer”, este era o pensamento da analista de marketing Joana Cannabrava quando estava alguns quilos acima do ideal. Ela emagreceu treze quilos, mas a vida não se tornou o paraíso que imaginava. Joana não está sozinha em sua idealização: muitas mulheres dividem essa esperança de que, quando a barriga sumir e o culote desaparecer, junto com eles vão todas as dificuldades da vida.


A psicanalista especialista em transtornos alimentares e obesidade Maria Elizabeth Gatto afirma que os problemas existenciais definitivamente não se resolvem com a perda de peso. “É claro que emagrecer tem vários benefícios. A saúde melhora, normalmente, a autoestima também. Além disso, os mais gordinhos sofrem bastante preconceito. Com o emagrecimento, certas questões ficam resolvidas.”

Só que depositar na perda do peso uma esperança de mudança de vida radical é irreal. “Normalmente, a busca pelo corpo esbelto e magro já começa fantasiosa. Mas os problemas existenciais não se resolvem com o problema de peso”, diz. “Nem tudo melhora com o emagrecimento, senão nenhum magro teria depressão, por exemplo”.
Joana conta que batalhou muito para deixar para trás os odiados quilos a mais na balança. Mas, depois que atingiu o pesou ideal, veio o baque da realidade. “Eu desabei. Quando eu estava com o corpo que sempre quis, percebi que tinha acabado com minha autoestima”, conta. Isso aconteceu, segundo ela, porque a obsessão pelo emagrecimento fez com que deixasse de enxergar qualquer outro lado seu. Para ela, estava sempre feia.
Sem ilusão

A história da fisioterapeuta Paula Crivelaro, 32, é diferente. Ela decidiu fazer a cirurgia bariátrica e perdeu mais de 40 quilos. “Eu tinha alguns problemas pontuais de saúde, mas sofria mesmo era com a parte estética. Mesmo assim, quando decidi pela operação, estava consciente que minha vida ia continuar igual ao que sempre foi.”

Ela conta que se sente mais feliz e disposta, mas continua correndo atrás do que quer. “Tudo que eu esperava que acontecesse, realmente aconteceu. Mas minhas expectativas eram relacionadas ao meu corpo e saúde. Já vi pessoas que emagreceram achando que iam arrumar namorado ou comprar uma casa. Isso não acontece!”.
O grande problema, de acordo com a especialista em medicina estética e emagrecimento Dora Ullmann, autora do livro “O Peso da Felicidade – Ser Magro é Bom, Mas Não é Tudo” (RBS Publicações), é que ao enxergar modelos e atrizes magérrimas e bem sucedidas, algumas pessoas acham que as duas coisas sempre vêm juntas. “Magreza não é sinônimo de sucesso, embora pareça, com tantas mulheres lindas e famosas que vemos o tempo todo na mídia”.

Perspectiva irreal

Dora explica que é comum as pessoas culparem características físicas como causadoras de problemas, quando na verdade a raiz da dificuldade pode estar em outro lugar. “Quando a pessoa tem uma perspectiva irreal de como será sua vida depois de emagrecer, cabe ao médico identificar isso e explicar que certas coisas não vão se alterar.”
“Buscamos reduzir expectativas muito altas que os pacientes tenham, mas nem sempre isso é absorvido”, pondera Maria Elizabeth. No caso de Paula ela ouviu as recomendações médicas com muita atenção. “Meu médico explicou que não adiantava pensar que nunca mais eu ia tomar refrigerante ou comer um lanche mais gorduroso. Ele preferia nem me operar se eu não fosse bem ‘pé no chão’ e entendesse que ia ter uma vida normal, com altos e baixos, mesmo depois de emagrecer. Eu sabia que as coisas não iam cair do céu”, conta.
Visão fragmentada de si mesma

Era justamente essa consciência que Joana não tinha. A obsessão por ser magra trouxe junto a ilusão de que só isso importava. “Eu não conseguia ver se meu cabelo estava bonito, se minha maquiagem era bacana. Só enxergava gorda ou magra.” Depois de cair em depressão, resolveu procurar ajuda.



Maria Elizabeth explica que a comida tem uma função muito importante na vida das pessoas que apreciam um bom prato. Justamente por isso é comum que a depressão apareça após um processo de emagrecimento. Ela diz que procura sempre trabalhar a mudança de foco: a busca por prazer em outras atividades é essencial, já que o alimento não é fonte mais de alento.

Hoje, Joana conta que consegue ter uma visão mais fragmentada de si mesma: sabe apreciar suas qualidades, mas ainda vê defeitos. Voltou a engordar, mas agora sua jornada é outra. “Claro que quero emagrecer novamente. Quem não quer? Só que eu percebi que sou mais importante que a imagem no espelho”, afirma.
“Enquanto você achar que o problema da felicidade está no número que a sua balança marca, você não vai ser feliz porque um número nunca vai ser a sua felicidade. Na prática não é assim. Gorda ou magra, você é a mesma pessoa. Eu atingi o peso ideal e tive que lutar para sair do fundo do poço”, lembra Joana Cannabrava.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Amor Paterno

O Dia Dos Pais já passou, mas sempre é tempo para falarmos sobre o amor paterno. A crônica "Ser Pai", escrita por Ruy Fernando Barboza, é deliciosa de se ler.

  
Com quem se aprende a paternidade? Pai pode ser amigo? Criar menina é diferente de criar menino?

"Desde criança eu queria ser pai. Admirava famílias grandes, casas cheias de quartos com beliches, um monte de gente falando na hora do jantar. Olhava para cada menina como uma potencial mãe dos meus filhos. Depois descobri o sexo, e nada podia ser melhor do que isso. Era tão bom que eu nem pensava que todo aquele prazer era exatamente o que fazia com que homens e mulheres se tornassem pais e mães. Até que minha namorada ficou grávida. E a relação entre um e outro desejo se estabeleceu com uma clareza contundente! Grana pouca, 23 anos eu, e ela 22. Em nenhum momento duvidamos de que a notícia era maravilhosa e casamos, praticamente sem pensar, em abril de 1967. No dia do casamento, três meses de gravidez, o vestido dela, na altura dos seios, apresentava manchinhas de leite. Foi para mim um bom sinal. Certamente teríamos uma família grande, feliz e bem alimentada. Paramos em dois casais de filhos (por ordem cronológica Juliana, Saulo, André e Carolina, respectivamente atriz, psicólogo, advogado e psicóloga).

Nunca nos sentimos preparados para a paternidade ou para a vida (ainda não me sinto e, apesar de carreiras bem-sucedidas no jornalismo, no direito e na psicologia, às vezes penso que minha verdadeira vocação seria cantar guarânias em bares boêmios). Entre culpas, medos e alegrias (com predomínio absoluto das alegrias), porém, acho que me saí razoavelmente bem. No fundo, ninguém ensina ninguém a ser pai. Vamos aprendendo aos poucos, com a experiência. E imitamos, mesmo sem querer, a referência de pai que tivemos. Olhando pra trás, vejo quanto imitei o meu, de quem de cara herdei o nome, Ruy, e de quem recebi um afeto sem limites. De escola, meu pai só teve o primeiro ano primário. Paulista de Jaú, filho de colono de fazenda, foi lavrador, cozinheiro, mecânico, motorista, marceneiro e lenhador.

Cresceu serrando troncos, produzindo dormentes para a construção da ferrovia Araraquarense. À noite, à luz de velas, aprendia solitariamente em quartos de pensão lendo livros de matemática, português (seu velho Dicionário de Cândido de Figueiredo até hoje está comigo) e inglês (O Inglês Tal Qual Se Fala no Presente, Sem Auxílio de Professor, que também herdei). Aprendeu tudo sobre café, tornou-se provador e classificador e, final da década de 40, casado e com três filhos, gerente de empresas exportadoras no norte do Paraná. Conheci as mãos de meu pai já macias. Depois do jantar, eu colava o ouvido ao violão para ouvi-lo dedilhar velhas valsas e sambas. Não havia mais calos na mão que tocava meu peito enquanto ele me contava histórias e me cobria nas noites de frio. Meu pai se foi há 15 anos, mas ainda sinto sua mão. É ela que me conforta nos momentos de desamparo.

A percepção desse afeto é que me deu força para, aos 17 anos, quando entrei na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, vir morar sozinho em São Paulo, onde não conhecia ninguém. Quando me tornei pai, aos 24 anos, tudo o que queria, e ainda quero, era poder tocar meus filhos com aquela mesma mão. Garanto: se você quer ser um bom pai ou uma boa mãe e ter filhos felizes, só precisa tocá-los dessa forma. O resto é detalhe.

Acho engraçado dizerem que pai não pode ser amigo. Pode, sim. Meu pai foi, e eu sempre quis ser amigo dos meus filhos. Amigo de verdade não é o que é conivente com erros e deixa o outro fazer bobagem. Amigo briga, até rompe a amizade quando vê aquele que ama estragando a própria vida. Um dia esse amigo volta e agradece. Pai tem de ser amigo assim.

Muitas vezes me perguntei se gostava mais de um filho que de outro. Pergunta que todo mundo faz aos pais. Não vejo diferença entre os meus amores por eles. Vejo, sim, que em cada tempo posso ficar mais próximo de um. Ou porque me identifico mais com o que ele está vivendo ou porque acho que naquele momento precisa mais de mim - ou eu dele.

E sempre confiei nos meus filhos. Nunca considerei saudável o comportamento do pai que vigia e investiga. Isso não é cuidar. Cuidar é dar opinião, é defender, é manter-se solidário, pronto para ajudar, mas respeitando a autonomia do outro.

Culpa, só sinto pelos momentos em que fui pouco atento ou interferi indevidamente na vida deles. Momentos em que não percebi ou não valorizei o sofrimento por que passavam. Momentos em que perdi a cabeça e descarreguei neles raivas que trazia de outras pessoas. Mas também aprendi que, se esses erros não são o nosso padrão de comportamento, não têm conseqüências a longo prazo. Diluem-se em meio às situações em que predominaram a compreensão e o afeto.

Menino, reconheço, dá muito mais trabalho que menina. Menino briga em festa, bebe de cair, experimenta droga, picha muros, anda de moto, faz besteira, faz bagunça, vai preso. Deixa você bravo, preocupado, com a pulga atrás da orelha. Menina tem juízo. Nunca perguntei a nenhuma das meninas onde iam, com quem iam, a que horas voltariam. Sempre soube que elas tinham mais juízo que eu, que sou menino. Aos meus meninos eu também não perguntava, mas com eles o resultado nem sempre foi bom. Devia ter perguntado. Errei.

Nosso maior sofrimento, no entanto, foi quando, depois de 21 anos, eu e minha mulher nos separamos. Não avaliei quanto seria difícil. E não havia nada a fazer. Foi quando descobri que sempre há algo a fazer, sim. No caso, era chorar. Não esconder o que eu sentia nem julgar a raiva ou a tristeza de cada um deles. Sofrer e chorar juntos pelo caminho que a vida tomava. Dessa crise, acredito, saímos todos fortalecidos. Em diferentes momentos, morei sozinho, morei com os quatro, com dois, com uma das meninas e, finalmente, moro sozinho de novo. Divido meu tempo entre Florianópolis e São Paulo, aproveitando o que há de melhor nas duas cidades. Em Floripa, o que há de melhor é minha namorada, apesar da linda paisagem da ilha. Em São Paulo, o que há de melhor é meu neto, Eduardo, apesar do amor por meus filhos e da minha ligação com a cidade.

Eduardo, meu primeiro neto, completa 1 ano no mês que vem. Ainda tenho comigo a grandiosa sensação do dia em que ele nasceu e dirigi 700 quilômetros para vê-lo. Se ser pai nos traz a ilusão de sermos pequenos deuses, pelo milagre que é ver surgir de nós uma vida, ser avô faz de nós divindades maiores, pois nos traz a sensação de que geramos nada menos do que um deus! Para encerrar, um alerta: quando você ouvir um avô dizendo que seu neto é a coisa mais linda do mundo, não acredite. Ele está sendo parcial, pouco objetivo, influenciado por essa falsa idéia de que produziu milagres. Nenhum outro avô pode ter originado a coisa mais linda do mundo, pois a verdadeira coisa mais linda do mundo é o meu neto, o Eduardo".

(Obs: Esta crônica foi publicada na revista Cláudia em agosto de 2007).













domingo, 7 de agosto de 2011

Mudar É Preciso



Segue abaixo mais um belíssimo texto escrito por Lya Luft. Esta escritora brasileira sempre tem muito a dizer e a ensinar através de sua inteligência e sensibilidade. Vale a pena conferir.

A Idade e a Mudança (Lya Luft)

"Mês passado participei de um evento sobre as mulheres no mundo contemporâneo.

Era um bate-papo com uma platéia composta de umas 250 mulheres de todas as raças, credos e idades.

E por falar em idade, lá pelas tantas, fui questionada sobre a minha e, como não me envergonho dela, respondi.

Foi um momento inesquecível... A platéia inteira fez um 'oooohh' de descrédito.

Aí fiquei pensando: 'pô, estou neste auditório há quase uma hora exibindo minha inteligência, e a única coisa que provocou uma reação calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho?

Onde é que nós estamos?

Onde, não sei, mas estamos correndo atrás de algo caquético chamado 'juventude eterna'.

Estão todos em busca da reversão do tempo.

Acho ótimo, porque decrepitude também não é meu sonho de consumo, mas cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sozinhas.

Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas de senhoritas, mesmo em idade avançada.

A fonte da juventude chama-se 'mudança'.

De fato, quem é escravo da repetição está condenado a virar cadáver antes da hora.

A única maneira de ser idoso sem envelhecer é não se opor a novos comportamentos, é ter disposição para guinadas.

Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos.

Mudança, o que vem a ser tal coisa?

Minha mãe recentemente mudou do apartamento enorme em que morou a vida toda para um bem menorzinho.

Teve que vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras, que havia guardado e, mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e simplificada, rejuvenesceu.

Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos.

Rejuvenesceu.

Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou um baita emprego por um não tão bom, só que em Florianópolis, onde ela vai à praia sempre que tem sol.

Rejuvenesceu.

Toda mudança cobra um alto preço emocional.

Antes de se tomar uma decisão difícil, e durante a tomada, chora-se muito, os questionamentos são inúmeros, a vida se desestabiliza.

Mas então chega o depois, a coisa feita, e aí a recompensa fica escancarada na face.

Mudanças fazem milagres por nossos olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna.

Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem, só que continuará opaco porque não existe plástica que resgate seu brilho.

Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar.

Olhe-se no espelho..."




terça-feira, 26 de julho de 2011

Confissões De Uma Garota De Programa (The Girlfriend Experience, EUA, 2009)


A psicanálise se interessa por todas as manifestações do psiquismo, especialmente as artísticas. Quem já não ouviu dizer que a arte imita a vida? Além de divertir e emocionar, o cinema nos apresenta uma diversidade de experiências humanas com as quais podemos aprender e amadurecer. Por isso, sempre que possível, escreverei e publicarei resenhas de filmes que achar interessantes.

CONFISSÕES DE UMA GAROTA DE PROGRAMA

O que podemos esperar de um filme com o título “Confissões de uma Garota de Programa” e cuja atriz principal é uma estrela de filmes adultos? Muita nudez regada por cenas de sexo acrobático e pirotécnico? Certo? Errado. Definitivamente, o foco do filme não é a prostituição.

Contando a vida pessoal e profissional de Chelsea, a garota de programa de luxo que atende homens da alta sociedade de Manhattan, interpretada pela estrela de filmes eróticos Sasha Grey, Steven Soderbergh, diretor de “Onze Homens e Um Segredo”, “Traffic”, “Sexo, Mentiras e Videotape”, parece querer mesmo nos fazer refletir sobre as relações humanas e o poder do dinheiro na sociedade capitalista em que vivemos.

Chelsea é a garota de programa perfeita. Jovem, bonita, discreta, bem vestida, educada. Perspicaz, ela sabe que o cliente não a quer como de fato é - por isso, se transforma na mulher que cada um deles deseja. Oferece mais do que prazer. Sexo parece ser apenas um item do pacote, talvez nem o mais importante. Ela ouve os problemas dos clientes, pergunta sobre as esposas e os filhos, ri das piadas, troca ideias sobre o filme assistido e, sobretudo, conversa com eles sobre dinheiro. Não à toa. Na época da filmagem, o país se encontrava às vésperas da última eleição presidencial, momento em que a instabilidade financeira passou não só a assustar como também a afetar a classe alta da sociedade norte-americana. Todos, no fundo, republicanos ou democratas, estão preocupados em ganhar mais dinheiro e manter o elevado padrão de vida. A própria Chelsea investe pesado em seus negócios para aumentar a clientela na tentativa de se transformar em um artigo de luxo cada vez maior. Ela aparece em algumas cenas pedindo a ajuda de um especialista em informática para dar mais visibilidade ao seu site. Chega, inclusive, a sair com um cliente asqueroso que, em troca de sexo, se compromete a publicar na internet uma crítica positiva sobre ela e os serviços prestados.

Chris, namorado de Chelsea, é personal trainer de uma academia e tem ambições de abrir um negócio próprio. Ele aceita com naturalidade a profissão da amada. Sua mentalidade capitalista faz crer que os fins justificam os meios. Apenas não admite que Chelsea se envolva emocionalmente com nenhum cliente. É o que acontece ou, pelo menos, parece acontecer.

O filme não segue uma narrativa cronológica. Presente, passado e futuro se misturam. Para olhos desavisados e acostumados aos padrões hollywoodianos, o drama pode parecer frio e insosso. Desde o começo da película, quando filma o encontro da garota com o primeiro cliente, a câmera jamais se aproxima do corpo da atriz nem de seu acompanhante, dando preferência aos objetos. No final desta sequência, por exemplo, ganham destaque duas taças de vinho tinto emoldurando o contato sexual do casal. Mas existe uma coerência e um objetivo por trás deste recurso cinematográfico escolhido por Soderbergh. Vivemos em uma sociedade capitalista, realizadora de desejos, em que tudo é transformado em mercadoria, objeto de consumo e gozo, inclusive as pessoas. E é justamente isto que o diretor parece querer mostrar: numa época marcada pela inversão de valores, os relacionamentos humanos se tornam frios, frágeis e vazios.

Enfim, sem dúvida alguma, o filme vai além das aparências e merece ser visto.



   

terça-feira, 19 de julho de 2011

Você sabe quanto do seu peso é emocional?



Você sabe quanto do seu peso é emocional?


Saiba o que Stéphane Clerget, autor do livro “Les Kilos émotionnels”, diz sobre a influência de nossas emoções no ganho de peso

Renata Losso, especial para iG São Paulo / 02/02/2010 17:34

Você pode ter vontade de sobra, mas se algumas emoções, como a ansiedade e a culpa, por exemplo, permanecerem em sua vida, emagrecer se tornará uma tarefa quase impossível. Conversamos com o psiquiatra francês Stéphane Clerget, autor do livro “Les Kilos émotionnels - Comment S'en Libérer Sans Régime Ni Médicaments" (“Os Quilos emocionais - Como se liberar sem regime nem medicamentos”), editora Albin Michel, ainda inédito no Brasil, e descobrimos que não basta somente o entusiasmo: é preciso estar com os sentimentos em dia.

iG Quais são as principais emoções que podem nos fazer engordar?

Stéphane Clerget Todas as emoções, em seus diferentes graus, podem interferir em nosso ganho ou perda de peso. Na maioria das vezes, a preocupação, a raiva contida, a tristeza, a ansiedade, o sentimento de vazio e a culpa colaboram para isso, mas há casos em que as emoções positivas, como a alegria, também contribuem. Além disso, não podemos nos esquecer dos conjuntos emocionais mais complexos, como o estresse, a falta de confiança em si, a falta de autoestima e a depressão.

iG De que maneira as nossas emoções podem influenciar em nosso peso?

Stéphane Clerget As emoções nos fazem engordar levando-nos a comer mais ou modificando a natureza do que comemos, nos levando a exagerar em alimentos mais açucarados ou a abdicar de diferentes temperos, por exemplo, o que pode variar de acordo com nosso humor. Elas também nos fazem engordar por modificarem nosso nível de atividade e de consumos energéticos: a tristeza, por exemplo, nos deixa menos fisicamente ativos. Por outro lado, surpreendentemente, as emoções também podem aumentar o nosso peso por meio da estocagem de gorduras, como se a pessoa “tirasse maior proveito” do que come.

iG As emoções atuam diferentemente nos homens e mulheres e em suas relações com a comida?

Stéphane Clerget Mesmo que algumas emoções se encontrem mais habitualmente em um homem ou mulher, elas são comuns a ambos os sexos. Entretanto, razões hormonais e culturais fazem com que homens e mulheres reajam de maneira distinta frente a diferentes sentimentos emocionais. Desta maneira, diante de uma frustração, os homens liberarão mais facilmente suas emoções, tomando atitudes em relação a elas, e as mulheres irão interiorizá-las, assumi-las. Claro, mas não é algo evidente, não acontece com todos.

iG Porque emagrecer é tão difícil para algumas pessoas e tão fácil para outras?

Stéphane Clerget Quando a alimentação é a única fonte de prazer de uma pessoa, não se deve pedir a ela que renuncie a comida enquanto não tiver acesso a novas possibilidades de prazer. Em algumas pessoas, há uma real vontade de emagrecer, mas existem obstáculos interiores, dos quais não há nem mesmo consciência e que são ainda mais fortes do que a própria vontade. Em outras, é muito fácil perder peso porque elas sabem se restringir violentamente, mas é algo de curta duração: o sobrepeso retorna assim que elas relaxam.

iG Diante da função da emoção no ganho de peso, os regimes podem se tornar inúteis?

Stéphane Clerget Qualquer que seja o tipo de regime, ao final de cinco anos, 90% das pessoas retoma seu peso original ou maior. Portanto, o regime por si só é inútil. Mas a escolha dos alimentos não deixa de ser importante, porque eles possuem um impacto emocional sobre o indivíduo. As pessoas que fazem dieta devem ter o sentimento de que o que elas comem é bom para elas e devem sentir um prazer verdadeiro ao comê-los. Obrigar-se a emagrecer sem nenhum tipo de prazer não é eficaz a longo prazo.

iG O que pode ser feito para evitar que as emoções, principalmente a ansiedade, influenciem tanto no que comemos?

Stéphane Clerget A ansiedade pode surgir devido a fatores genéticos e fatores adquiridos pelo entorno. Esses fatores representam mecanismos de defesa psíquicos que aprendemos a colocar em prática durante o desenvolvimento da emoção. É necessário retornar às fontes de nossa ansiedade para poder pesquisar e encontrar seus determinantes a fim de abandoná-los. Uma pessoa pode possuir uma ansiedade, por exemplo, que foi repassada pela avó que a educou, e acreditar que esta ansiedade é realmente dela, e não adquirida de outra pessoa.

iG Quantos quilos por ano alguém pode engordar devido a problemas emocionais?

Stéphane Clerget Não há limite para o inconsciente. O sobrepeso ocasionado por fatores emocionais pode tornar-se também a origem de um mal-estar mais profundo e, num círculo vicioso, ocasionar outros quilos emocionais.