terça-feira, 26 de janeiro de 2010

SPFW: COM QUANTOS OSSOS SE FAZ UM DESFILE


A São Paulo Fashion Week (2010), o maior evento de moda do país, acabou, mas deixou na lembrança, além de desfiles e roupas deslumbrantes, um certo desconforto no ar e muitas perguntas sem respostas.

Boa parte das modelos apareceu mais magra nas passarelas do que no ano anterior. Algumas pareciam doentes. Estariam com anorexia?

Quando entrevistadas, acompanhadas de perto pelo olhar atento de seus agentes, evitaram falar sobre pesos e medidas. Há quem diga que o índice de massa corporal (IMC) das tops é igual ao de crianças. Estilistas contaram que foi necessário fazer ajustes nas roupas, pois ficaram grandes nas beldades.

Eu me pergunto quem são estes ditadores de comportamento que definem qual é o padrão ideal de beleza. Também me questiono porque aceitamos a opinião deles e procuramos nos encaixar no perfil proposto, mesmo não fazendo sentido. Já ouvi dizer que são homens que gostariam de ter nascido como mulheres. Eles as invejam e se vingam, maltratando-as. Será? O que sei é que não me parece nada normal considerar como belos corpos que são esqueléticos. Sim, porque ser magro é uma coisa e ser cadavérico é outra completamente diferente. Nem todo magro é anoréxico.

Quero deixar claro que não sou contra a magreza. Acho bonitos os corpos esbeltos e longilíneos. Conheço pessoas que são assim por natureza. Nasceram com o DNA privilegiado. Comem bem e de tudo, mas não engordam. Vendem saúde. Por outro lado, conheço a busca insana e obsessiva pela magreza. Pessoas que adotam dietas muito restritivas e que se preocupam de maneira exagerada com o peso e a forma corporal. A balança e o espelho são seus piores inimigos. Apesar de estarem magras, se olham e se acham gordas (distorção da imagem corporal).

A busca pela magreza e pela beleza não é um mal em si. Todos nós queremos ser amados e admirados pelos outros. É da natureza humana. O problema está em transformar esta busca no único meio de dar sentido à existência, prejudicando a saúde e colocando em risco a vida. Sim, é duro de ouvir, mas a anorexia pode levar à morte.

Estamos na era da publicidade. A propaganda e os meios de comunicação estimulam a busca insana por um corpo perfeito. Seria importante que a mídia reavaliasse seu papel na sociedade contemporânea. Quero ressaltar que não a estou responsabilizando. Percebo que ela é apenas uma expressão da cultura e não, sua origem. Mas sei que capta tendências e as propaga, podendo reforçar preconceitos ou estimular novas visões de mundo. Torço para que escolha o segundo caminho.

Espero também que as mulheres, principais vítimas dos transtornos alimentares, aprendam a respeitar e a gostar de si mesmas. Tomara que busquem saúde e bem-estar, preenchendo suas vidas de conteúdo e valor. É bacana ser belo por dentro e por fora com consciência e sensatez. Não é possível fazer do corpo uma morada agradável, um lugar harmônico para se morar, se não houver equilíbrio interior.

Quando os laços amorosos com os outros e consigo mesmo não vão bem, está mais do que na hora de procurar ajuda.

domingo, 24 de janeiro de 2010

A DESPEDIDA DE ENKE E A DITADURA DA FELICIDADE (Uma breve reflexão sobre a depressão e a sociedade em que vivemos)



No dia 10 de novembro de 2009, os amantes do esporte receberam uma triste notícia.

Robert Enke, 32 anos, goleiro da seleção alemã e do time Hannover 96, cometeu suicídio, atirando-se um uma ferrovia. Os motivos que o teriam levado a este fim trágico ainda não foram totalmente esclarecidos.

A polícia alemã encontrou uma carta de despedida do suicida, mas seu conteúdo não foi revelado em respeito à família do atleta. Sabemos apenas que Enke pediu perdão à família e aos amigos por adotar atitude tão drástica e desesperada.

A morte do goleiro causou comoção geral. Jogadores da seleção alemã, torcedores do Hannover e milhares de fãs de Enke prestaram uma homenagem ao atleta, levando flores, velas e mensagens de apoio à família do falecido.

Foi divulgado que Enke sofria de depressão desde 2003 e que fazia tratamento psiquiátrico.

Em 2006, o jogador perdeu sua filha Lara, de apenas 2 anos de idade, devido a uma doença cardíaca congênita.

Ele era casado e, em maio do ano passado, juntamente com sua mulher, adotou uma menina, Leila, que hoje tem 8 meses.

Parece que o médico chegou a sugerir a internação de Enke para um tratamento mais intenso, mas o jogador não queria tornar público seu caso com medo de prejudicar sua carreira e perder a guarda da menina.

Fora do consultório, o psicanalista é tão leigo quanto qualquer outra pessoa diante dos surtos alheios. Não conheci Enke. Nada posso falar sobre ele. Como ser humano, que conhece e respeita a dor do próximo, apenas posso desejar que o jogador encontre aconchego e alívio para seu sofrimento nos braços de Deus. Espero também que a família tenha força e coragem para suportar o luto e a perda inestimável do ente querido.

Mas a experiência clínica profissional me permite falar sobre a depressão e a sociedade em que vivemos.

Segundo pesquisas, 70% dos suicídios ocorrem em virtude de uma fase depressiva. Tentativas em homens, quase sempre, são mais graves e bem sucedidas do que em mulheres devido ao emprego de métodos mais violentos. 90% dos que tentam, avisaram antes que iriam fazê-lo.

Embora se pregue a ditadura da felicidade, a depressão é o grande sintoma dos dias atuais.

Ser feliz o tempo todo parece ser uma obrigação na sociedade moderna. Sorrir é preciso. Vivemos em uma sociedade que induz as pessoas a esconderem suas dores e lágrimas para que não sejam vistas como perdedoras ou fracassadas. Querem nos convencer de que o sofrimento é patológico, mas é loucura acreditar nisto porque ele faz parte da vida. A realidade não é um comercial de creme dental clareador e a vaga de miss simpatia já foi devidamente ocupada por Hebe Camargo.

Milhares de pessoas vivem uma vida sem sentido, mergulhadas em um poço de tristeza e solidão. Perderam o encantamento e o brilho dos olhos. Estão entediadas e inundadas de tranqüilizantes. Nunca se tomou tanto Prozac. O ser humano morre aos poucos quando perde o contato com sua essência e deixa de se sentir importante.

Muitas pessoas estão colocando a felicidade onde, de fato, ela não está. Numa sociedade consumista é fácil confundir sonhos com desejos. Freud, já em 1929, iniciou seu artigo O Mal Estar na Civilização dizendo que “é impossível fugir à impressão de que as pessoas comumente empregam falsos padrões de avaliação – isto é, de que buscam poder, sucesso e riqueza para elas e os admiram nos outros, subestimando tudo aquilo que verdadeiramente tem valor na vida”. É fácil encontrar pessoas angustiadas por não conseguirem brilhar tanto quanto sonharam, exigindo demais de si mesmas e se torturando por não serem perfeitas.

Pergunte-se: Quais são suas prioridades? Quem é você? Quais são os valores que dão impulso aos seus sonhos e projetos? Converse consigo mesmo e com seu coração. Se não estiver bem, procure ajuda. Embora a dor seja inevitável nesta vida, o sofrimento e o desespero são opcionais.

Preocupar-se em viver com intensidade e verdade é mais importante do que ficar correndo atrás da felicidade.

Faça a vida valer a pena!

A DOR QUE NÃO QUER CALAR (Alerta: O homem moderno está sofrendo e a dor está dentro dele! Que dor é essa? A dor de viver.)



Cresce assustadoramente o consumo de analgésicos e de remédios psiquiátricos.

O Brasil está no ranking dos países que mais consomem medicamentos no mundo.

Em 2008, o Rivotril, ansiolítico de tarja preta, foi o 2º medicamento mais vendido em terras tupiniquins, superando o consumo de remédios de uso corriqueiro como, por exemplo, hipoglós e tylenol.

A indústria farmacêutica enriquece oferecendo remédios aos clientes como se fossem uma mercadoria como qualquer outra e, muitas vezes, prometendo efeitos irreais. As drogarias assemelham-se a supermercados.

É claro que o uso de medicamentos é indispensável no tratamento de diversas doenças, curando e salvando a vida das pessoas. O problema está no consumo indevido, abusivo e sem o acompanhamento adequado de um médico. Remédios são drogas, portanto, têm efeitos colaterais, podendo causar dependência e até levar à morte. Muitos astros e estrelas de Hollywood estão assumindo e lutando contra o vício. A doença levou embora grandes talentos como Heath Ledger e Michael Jackson. Em 20 de dezembro de 2009, perdemos Brittany Murphy, ao que tudo indica, pelo mesmo motivo. Infelizmente, é bem provável que a lista de vítimas aumente.

Afinal de contas, o que está acontecendo? Difícil dizer, mas podemos levantar algumas hipóteses.

O mundo nos tem feito adoecer. A sociedade cobra o máximo desempenho das pessoas. Precisamos ser cada vez melhores em todas as áreas. Vivemos em uma prisão, obrigados a atingir o inalcançável.

Em uma época de profundas transformações e contradições, nunca fomos tão poderosos e, ao mesmo tempo, tão desamparados. Globalizados e sozinhos.

Somos bombardeados de estímulos e informações. Já não sabemos, ao certo, quem somos e o que queremos, mas não temos dúvidas de quem deveríamos ser. A existência perde o seu sentido e agora nos perguntamos com freqüência: - Nossa, mas era só isso?

Nos dias atuais, temos a obrigação de sermos felizes. Alguém falou que a vida é uma festa, mas parece que não fomos convidados a participar.

Com medo de sermos vistos como fracos e perdedores, escondemos as emoções dos outros e de nós mesmos. Em um mundo que demanda respostas rápidas e fáceis, fazemos uso dos medicamentos para nos livrar logo da dor que nos incomoda. Mas não adianta esconder a sujeira embaixo do tapete. O que nos perturba não fica parado dentro da gente e começa a dar sinais através dos sintomas.

A solução é encarar de frente. Viver dói sim e dá ansiedade. Ninguém falou que ia ser fácil, mas que valeria a pena. Não dá para viver a vida evitando-a.

Precisamos aprender a conviver e tolerar uma gama mais ampla de experiências emotivas. A angústia, por exemplo, nos põe em movimento, porque precisamos fazer algo e buscar soluções para deixar de senti-la.

Ajuda-nos aceitar que somos humanos, finitos, mortais, falhos, incompletos, limitados, angustiados, mas, ainda assim, incríveis. Sabemos amar, cantar, dançar, sonhar, criar, construir, ajudar, sorrir e tantas outras coisas maravilhosas.

Se você não estiver bem consigo e com suas emoções, procure ajuda. Dar um nome e um sentido a algo desconhecido e que não foi pensado antes, alivia a dor. Falar sobre ela faz com que perca a força. O analista acolhe e transforma as angústias do paciente.

Vamos viver com mais vontade e verdade!







QUANDO O INIMIGO É CONVIDADO PARA O JANTAR ( O que é ortorexia, quais são seus sintomas e como pode ser tratada)






Nestes tempos modernos, o ato alimentar vem perdendo sua naturalidade.

Até outro dia, a comida servia para nutrir não só o corpo, mas também a alma. O alimento fornecia os nutrientes indispensáveis ao crescimento, desenvolvimento e funcionamento normal do organismo, além de dar prazer.

Hoje, não se come, se faz “dieta”.

A relação do homem com sua forma corporal sofreu profundas modificações, tornando-se bastante problemática e artificial. Pobre corpo que virou um inimigo a ser constantemente domado e atacado. Parece que não moramos mais dentro dele. Estamos do lado de fora, olhando-o como espectadores, loucos para mudá-lo e moldá-lo de acordo com nosso desejo.

Não podemos esquecer que estamos na era da publicidade. A propaganda e os meios de comunicação alimentam a busca insana por um corpo perfeito. A beleza, nos dias de hoje, é sinônimo de obsessão pela magreza e pela juventude.

Descontentes com seus corpos e sua aparência física, as pessoas buscam todas as alternativas possíveis para alcançarem a tal estética ideal. Se entrarmos na internet, encontraremos inúmeras informações sobre dietas e regimes prometendo o corpo perfeito, muitas vezes sem nenhum embasamento científico. Assim fica fácil entender porque novos distúrbios alimentares estão surgindo e ganhando espaço. O que será que estes corpos doentes, através de seus sintomas, estão tentando nos falar? Parecem gritar para quem quiser ouvir que o mundo emocional não vai bem. Como estas pessoas se relacionam consigo mesmas e com os outros? Como pensam (ou não pensam) a vida e as frustrações cotidianas?

A ortorexia é um distúrbio alimentar, ainda pouco conhecido, caracterizado pela preocupação excessiva com a qualidade do que se come. Este termo foi usado pela primeira vez em 1997 por Steven Bratman, médico americano. A palavra é um neologismo. Segundo o dicionário grego, “orthos” quer dizer correto e “oréxis” significa apetite, ou seja, “alimentação correta”.

Não há nada de errado em buscar uma alimentação saudável, o problema é que o portador da doença o faz de forma exagerada, obsessiva. O indivíduo passa a comer apenas alimentos naturais e orgânicos (sem agrotóxicos), eliminando de sua dieta carboidratos, gorduras, produtos industrializados, açúcar, leite, carne vermelha.

O ortoréxico acredita que a dieta manterá seu corpo saudável, jovem e livre de toxinas, mas esta rigidez alimentar, pelo contrário, pode trazer graves danos à saúde. Como o mesmo cardápio se repete com freqüência, ocorrem deficiências nutricionais que podem ocasionar anemia, desnutrição, osteoporose, alterações hormonais, queda do sistema imunológico.

Alimentação boa é aquela que é balanceada e variada.

Alguns sinais indicam a presença da doença. Suspeite de ortorexia se a pessoa:

* Dedica grande parte do seu tempo planejando e controlando suas refeições de modo que a dieta se torna o centro da sua vida;

* Examina detalhadamente o valor nutricional de cada alimento que ingere;

* Só compra alimentos macrobióticos, dietéticos, orgânicos, integrais, sem aditivos e conservantes.

* Apenas come o que prepara ou cujo processo acompanha, por isso, se isola e deixa de freqüentar festas, jantares e reuniões para evitar o consumo de alimentos nocivos;

* Sente uma culpa enorme quando consome algum alimento que não faz parte da dieta;

* Observa e comenta a maneira como as outras pessoas preparam a comida, tentando convertê-las a este tipo de alimentação;

* Perde muito peso por causa da dieta adotada.

Se todos nós sofremos influência da mesma sociedade, por que só alguns adoecem? Quais pessoas são mais propensas a desenvolver o distúrbio alimentar? Geralmente, por trás deste sintoma encontramos pessoas rígidas, exigentes e em busca de perfeição, preocupadas com normas e regras e que tendem à idealização.

O tratamento da doença é feito através de uma equipe multidisciplinar com nutricionistas, endocrinologistas, psicanalistas, psiquiatras, além de outros profissionais da área da saúde. Em alguns casos, o uso de medicamentos é necessário.

A busca pela beleza e pela saúde não é um mal em si. O problema está na transformação desta busca no único meio de dar sentido à vida. O que nos faz querer, aos 40 anos, ter o mesmo corpo de quando tínhamos 18? Por que queremos parar o tempo? Precisamos ver a vida com outros olhos. Vamos celebrar o milagre de andar por este mundo e gastar nossa energia lutando pelos nossos sonhos e por uma existência melhor com mais conteúdo e valor.




TANOREXIA: A OBSESSÃO EM MANTER O CORPO SEMPRE BRONZEADO


Verão combina com férias, altas temperaturas, passeios ao ar livre, dias claros e prolongados, praia, piscina, corpos dourados e da cor do pecado. Afinal de contas, moramos em um país tropical e, como diz a música, “abençoado por Deus e bonito por natureza”.

Nesta época do ano, ficar bronzeado é a ambição de muitas pessoas, porque assim se sentem mais bonitas e atraentes.

Na quantidade certa e adotados os devidos cuidados, o sol faz bem à saúde. A luz solar aumenta a produção da vitamina D, necessária para fortalecer os ossos e evitar o raquitismo. O astro-rei também melhora nossa disposição e humor.

Por sua vez, a exposição exagerada aos raios ultravioleta (UV) provoca queimaduras na pele, manchas, perda da elasticidade e envelhecimento, podendo até ocasionar câncer.

Em algumas pessoas, o hábito de tomar sol acaba virando uma compulsão. A “tanorexia” é a obsessão por estar bronzeado. O portador da doença nunca está satisfeito com o tom da pele e faz qualquer coisa para ficar mais moreno, deixando a saúde de lado e pondo em risco a própria vida. Para alcançar o resultado esperado, vale a exposição exagerada ao sol, muitas vezes sem o uso do filtro solar, além de inúmeras sessões de bronzeamento artificial.

Os “tanoréxicos” abrem mão de compromissos sociais e até profissionais para não perder uma oportunidade de tomar sol e, quando não conseguem se desvencilhar das obrigações para se bronzear, sentem-se ansiosos e mal humorados. É comum comerem alimentos que reforcem a cor como, por exemplo, cenoura e beterraba.

A enfermidade afeta principalmente as mulheres na faixa etária entre 20 e 30 anos, mas já há muitos casos entre adolescentes. Na lista de possíveis vítimas, encontra-se o nome de famosas como a ex- Spice Girl Victoria Beckham e Donatella Versace.

Ao que tudo indica, a preocupação exagerada com a beleza e o culto ao corpo, a baixa auto-estima e a grande necessidade de reconhecimento e aceitação social contribuem para o surgimento da doença. Não é raro os tanoréxicos apresentarem outros distúrbios de imagem como, por exemplo, a anorexia.

Procure ajuda se tiver os sintomas mencionados. O tratamento da doença é feito através de medicamentos e psicoterapia. O objetivo é fazer o paciente reconhecer o exagero, ser capaz de controlá-lo melhor e obter um padrão de vida mais saudável.

O verão está aí para ser aproveitado com prazer e responsabilidade. Limite seu tempo no sol. Use filtro solar diariamente (fator de proteção no mínimo 15). Evite a exposição entre 10 e 15 hs. Use chapéus e roupas adequadas. Não se esqueça dos óculos escuros. Lembre-se de que o filtro solar deve ser aplicado pelo menos meia hora antes da exposição, reaplicado a cada 2 hs ou logo após nadar ou praticar exercícios físicos. Beba bastante água.

É a sua vida que tem que ser colorida!