sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A CINDERELA MODERNA E O PARAÍSO FEMININO


Um dia, o rei resolveu dar um baile no castelo e convidou todas as moças do reino para que o príncipe escolhesse sua esposa.

Cinderela também queria ir à festa, mas sua madrasta a proibiu, alegando que ela não tinha um vestido digno para a ocasião. No fundo, temia que a beleza de Cinderela conquistasse o príncipe e impedisse que uma de suas duas filhas fosse a escolhida.

Nossa heroína, com a ajuda dos amiguinhos da floresta, costurou um vestido de retalhos, que foi rasgado pela madrasta e por suas filhas na última hora para impedir que ela tivesse tempo de fazer outro.

Cinderela ficou muito triste. Foi para seu quarto, chorou e rezou muito. Então, de repente, a fada madrinha apareceu e, com sua varinha mágica, criou um lindo vestido para a sua protegida. Também transformou uma abóbora em uma linda carruagem; o gato, em cocheiro; e o rato, num belo cavalo.

Antes de partir, a fada avisou que o encanto terminaria à meia- noite.

O paraíso feminino para a maioria das mulheres é o lugar em que bolsas “descoladas”, sapatos lindos de saltos altos e finos, perfumes afrodisíacos, brincos e anéis reluzentes, jeans bem justos e sexys, botas “transadas”, batons que deixam os lábios carnudos, vestidos poderosos, enfim, onde tudo isso está ao alcance de suas mãos e cartões de crédito como num passe de mágica.

Qual de nós, após uma briga terrível com o namorado ou uma encrenca escabrosa no trabalho, não correu ao shopping e fez compras para se sentir melhor?

Só que, além de não resolver o problema afetivo nem o profissional, acabou arranjando mais um: o financeiro, uma vez que as novas dívidas precisarão ser pagas.

Vivemos em uma sociedade capitalista, realizadora de desejos, em que tudo é transformado em mercadoria, objeto de consumo e gozo.

O sistema quer que a gente ande na moda, troque de carro todo ano, compre vários eletrodomésticos (ainda que você nem saiba bem como usá-los nem para que servem) e adquira um apartamento que vai lhe deixar endividada pelo resto da vida.

Ouvimos a mesma mensagem o tempo todo: possuir coisas é bom, quanto mais você tiver, melhor.

Os produtos prometem felicidade, liberdade, sucesso, poder e “status”, mas não cumprem a sua promessa.

Uma boa parte do orçamento familiar é usada na compra de produtos e serviços relacionados à estética. Porém, a beleza não vem de brinde junto com o creme facial da marca de cosmético famosa nem o moço bonito da propaganda de perfume vem com o produto adquirido.

Quanto mais carentes e descontentes estamos, mais compramos. Sentimos um vazio interno e tentamos preenchê-lo de algum modo. No fundo, estamos buscando afeto. Queremos ser amados e, então, procuramos ter tudo aquilo que possa fazer com que sejamos mais admirados, valorizados e desejados. Por isso, a satisfação dura pouco, porque, na verdade, não é o objeto adquirido que queremos. Nós desejamos mesmo é o reconhecimento do outro. Os avanços tecnológicos têm alcançado feitos incríveis, mas o amor ainda é a força transformadora mais revolucionária de todos os tempos. É ele que nos comove, impulsiona, alimenta e enlouquece. Tem o poder de criar, libertar e embelezar e, quando mal utilizado, em seu nome se mata, destrói e escraviza.

Para o sistema é bom que seus desejos nunca sejam satisfeitos, pois é do desejar sempre mais, sempre outra coisa, que ele se alimenta.

Aprender a analisar a necessidade real do consumo ajuda muito. Na hora da compra, avalie se você precisa realmente, ou se apenas quer o que está adquirindo.

Muitas vezes, o desejo de comprar vira doença. Aumentou o número de pessoas que buscam ajuda psicológica e psiquiátrica para controlar o consumismo compulsivo, que é mais comum em mulheres.

O ato de comprar indiscriminadamente é uma doença chamada “oneomania”. Os acometidos gastam sem pensar (impulsividade do ato) e mais do que ganham, adquirem produtos repetidos ou sem utilidade nenhuma, se irritam diante da impossibilidade de comprar, escondem as aquisições e as dívidas dos amigos e familiares. Pretendem comprar um tênis e voltam para casa com um carro.

É comum a compulsão vir acompanhada de outros vícios. Quem está nesta situação deve procurar ajuda. Existem grupos de apoio para tratar a doença como, por exemplo, os DA (devedores anônimos).

A compulsão é do reino da ação. A pessoa faz algo repetidamente porque não consegue evitar fazer. Portanto, o tratamento deve levar o paciente a encontrar outras formas de manejar seu desamparo, suas carências e angústias, reduzindo a impulsividade do ato através do incremento da capacidade de pensar.