domingo, 26 de agosto de 2012




EM QUEM ME TRANSFORMEI? DIVAGANDO SOBRE O FILME "A VIDA DE OUTRA MULHER".


Nada como um filme interessante e uma companhia agradável ao nosso lado, não é mesmo?

Recentemente, fui ao cinema para assistir ao filme 360, mas os ingressos estavam esgotados e acabei vendo A VIDA DE OUTRA MULHER (LA VIE D’UNE AUTRE). Gosto de pensar que o “invisível”, muitas vezes, nos leva para onde precisamos estar ainda que a gente não perceba.

O filme é uma produção francesa. Juliette Binoche – com a beleza e o talento de sempre – dá vida à protagonista Marie.

No início da história, Marie é uma jovem que mora em uma cidade pequena, onde ajuda a mãe (Danièle Lebrun) a cuidar do pai enfermo e inválido.

Aos 25 anos, conhece Paul (Mathieu Kassovitz), o grande amor de sua vida e consegue um emprego fabuloso, em Paris, como investidora.

De repente, Marie acorda com 41 anos sem saber quem é e onde está. Ela se assusta com a mulher que vê no espelho e com um menino na cozinha que a chama de mãe. Não se lembra de nada do que aconteceu na última década e meia. Desconhece Barack Obama e fica perplexa ao saber da morte de Michael Jackson. E, no decorrer da trama, vai ter que lidar com outras surpresas desagradáveis. Descobre que o pai morreu; que a mãe o abandonou doente para se casar com outro; que as duas não se falam mais e estão brigando na justiça. Também toma conhecimento de que é uma profissional rica e respeitada, mas que sua vida pessoal é um fracasso. Não tem amigas, vive um casamento em frangalhos e está se divorciando.

Clinicamente, apesar dos traumas vivenciados, a amnésia repentina da protagonista não me parece viável. Serve mais como uma metáfora que leva a várias interpretações possíveis. A minha leitura da trama é apenas uma delas. Mas será que não existe uma mais correta? Pouco importa. Vivemos em uma sociedade que busca soluções milagrosas, rápidas e prontas. Fico bastante feliz quando encontro situações que permitem o exercício da reflexão e onde as perguntas são mais importantes do que as respostas – afinal de contas – são elas que nos movem.

A gente cresce ouvindo que o tempo não corre; ele VOA. Pois é. Em um belo dia, temos 20 e poucos anos e, quando acordamos e nos damos conta, já temos 40 ou mais! E, muitas vezes, nesta viagem através do tempo, a bagagem é extraviada e o passageiro que subiu no voo não é o mesmo que desembarca.

É doloroso, mas não raro, chegar à idade adulta e perceber que a vida tomou um rumo indesejado. Pelo caminho, gradativamente, foram sendo abandonados os sonhos, os desejos, os valores, os ideais, as crenças, as esperanças e a vontade de mudar e construir um mundo melhor. Também se foi o corpo de outrora. E o que sobra é uma pessoa que mal reconhecemos. Quem é esse estranho em que me transformei? Onde foi parar aquele que me era tão familiar? O que fazer?

E, para piorar a situação, é comum encontrarmos outro ser esquisito, além de nós mesmos: o cônjuge. A rotina e as vicissitudes do casamento – muitas vezes – transformam os parceiros em grandes desconhecidos. Há casais que mal se falam, não se tocam e ignoram a cumplicidade do sexo. Vivem isolados cada qual em seu mundinho particular. É muito fácil se perder de quem se ama e culpar esta pessoa por não fazermos aquilo que queremos e que – no fundo – não fazemos por medo ou por alguma inabilidade qualquer.
Mais do que tudo, em minha opinião, o filme fala sobre a necessidade e a coragem de encontrar um caminho que nos leve a redescobrir quem somos e que permita reconstruir relações perdidas que ainda valem a pena. “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses”.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

"VIVER NÃO É PRECISO. CAMINHAR É PRECISO". - PENSANDO SOBRE O FILME ON THE ROAD (NA ESTRADA)




"VIVER NÃO É PRECISO. CAMINHAR É PRECISO."- PENSANDO SOBRE O FILME "ON THE ROAD" (NA ESTRADA) 

É terrível para um escritor ver sua inspiração partir sem dia e hora para voltar. E é terrível para qualquer ser humano não saber quem se é, não achar sentido na vida e fazer de sua existência uma grande página em branco.

Enganada pelo trailer empolgante e por meus próprios desejos inconscientes, fui ao cinema esperando ver um filme e assisti a outro completamente diferente. Fui surpreendida por uma história profunda, tocante e perturbadora. Vi um filme onde os atores estão totalmente entregues a seus personagens e cuja trama também é contada com o auxílio de uma trilha sonora antenada e por uma fotografia exuberante, marcada por cores quentes, enquadramentos em primeiro plano, closes invasivos que capturam a angústia existencial dos personagens e cortes precisos.

“On the Road” (Na Estrada) é um filme baseado no romance polêmico escrito por Jack Kerouac em 1957.

Sal Paradise (interpretado por Sam Riley), narrador da história, é um jovem escritor tentando decolar que, após a morte do pai, não consegue escrever.

Ao lado do amigo Dean Moriarty (brilhantemente interpretado por Garret Nedlund), Sal resolve atravessar os Estados Unidos, de Nova Iorque até o México.

Dean é o típico cara “porra-louca”. Dotado de uma fúria vital descontrolada, seduz todos a sua volta (Carlo, Marylou/Kristen Stewart, Camille/Kirsten Dunst). Sal também o segue e explica seu fascínio com as seguintes palavras: “E eu me arrastei como tenho feito toda a minha vida, indo atrás das pessoas que me interessam, porque os únicos que me interessam são os loucos, os que são loucos para viver, loucos para falar, que querem tudo ao mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam e não falam obviedades, mas queimam... queimam... queimam... como fogos de artifício em meio à noite”.

Muitos conflitos emocionais permeiam e intensificam o relacionamento entre os dois, inclusive questões paternas. Sal não superou a morte do pai e Dean não consegue encontrar o seu. No México, quando Sal adoece, Dean o abandona à própria sorte, mostrando sua incapacidade de ser solidário, de cuidar de quem quer que seja, inclusive de si mesmo. Quando ocorre a separação e a interrupção da travessia, Sal volta a escrever num momento de encontro consigo próprio.

Mais do que contar a história da geração “beat” embalada por álcool, drogas, sexo, liberdade desenfreada, jazz, Proust, James Joyce, Rimbaud e cujo lema era “live fast, die young”, o filme aborda uma questão universal: a busca de cada um de nós pelo autoconhecimento e de um sentido da vida, além do modo pelo qual lidamos (ou não) com a angústia, o desamparo e o desconforto de viver.

Qual a moral da história? Que cada um se vire e encontre a sua, porque viver bem tem um significado distinto para cada pessoa. Para uns, pode ser viver alucinadamente com o coração sempre saltando pela boca. Eu acredito que viver bem é, acima de tudo, viver a verdade: A SUA VERDADE.

Felizes aqueles que percorrem as estradas da vida honrando cada quilômetro; aqueles que, apesar dos desvios e das rotas tortas, sabem que a travessia é muito mais importante do que a chegada e que, sobretudo, não deixam de dar carona às oportunidades que os deixam cada vez mais próximos de quem, de fato, querem ser.

Boa viagem! Pé na estrada!