sexta-feira, 30 de julho de 2010

Mano Menezes E A Seleção: O Que É Renovação?


Após um pouco de mistério e de alguns nomes (Scolari, Luxemburgo, Leonardo) circulando como possíveis candidatos nos bastidores, o Brasil tomou conhecimento do novo técnico da seleção no dia 24 de julho.

Mano Menezes aceitou o cargo após a recusa de Muricy Ramalho que não foi liberado pelo Fluminense, clube com o qual tem contrato. Há quem diga que a renúncia de Muricy teve outro motivo. O técnico não teria sentido firmeza nos projetos da CBF para 2014. Como saber a verdade?

Confesso que fiquei bastante satisfeita com a primeira convocação dos jogadores para o amistoso contra os Estados Unidos no dia 10 de agosto. Sou fã do quarteto “santástico”. Adoro a habilidade, a vitalidade e a alegria de jogar destes rapazes. Para mim esta é a cara do verdadeiro futebol tupiniquim. Desde já, desejo sucesso ao treinador e a toda equipe.

No entanto, ando bastante intrigada porque muito se tem falado em renovação da seleção brasileira. Mudar o treinador e os jogadores é, de fato, renovar?

Assim como eu, você deve ter uma amiga que, querendo mudar de vida, tingiu o cabelo e fez uma cirurgia plástica. Quero deixar bem claro que não tenho nada contra os cuidados estéticos, apenas não gosto da obsessão e da busca insana por um corpo perfeito. Eu também quero me sentir bem, sair bonita na foto e atrair olhares, mas não é disto que estou falando. Estou querendo dizer que as verdadeiras mudanças são mais profundas e internas. Acontecem dentro da gente, em nosso emocional.

Por que será que os cargos de comando político não mudam? Estaria errada ao dizer que o Ricardo Teixeira parece o dono absoluto da CBF e que aquele que não reza segundo sua cartilha corre o risco de ter seu pescoço cortado? Pelo menos no futebol, diferentemente do que ocorre na Fórmula 1, o dirigente não obriga o piloto que está na frente a deixar passar o companheiro da equipe melhor classificado.

Reconheço que mudar dentro de campo já é um passo significativo, porém também se faz necessário organizar a bagunça que ocorre fora das quatro linhas e dentro de cada um dos personagens envolvidos nos espetáculos esportivos.

Não é segredo para ninguém que o futebol movimenta cifras de dinheiro inacreditáveis e que transforma, da noite para o dia, homens despreparados em celebridades. Imersos na sedução do status e do poder, correm o risco de perder de vista os valores éticos e morais. Nos últimos tempos, infelizmente, os meios de comunicação veicularam notícias de atletas envolvidos em orgias e assassinatos, fazendo uso de drogas pesadas e de bebidas alcoólicas.

Sabemos que os jogadores começam muito cedo na carreira, que abandonam os estudos e que, geralmente, são provenientes de famílias pobres e desestruturadas. É claro que estes eventos sozinhos não geram delinqüentes e desequilibrados.

O fato é que o apoio psicológico deveria ser tão importante quanto à alimentação balanceada, os treinamentos físicos e táticos e os cuidados médicos e de fisioterapia. Assim estariam mais preparados para lidar com derrotas, lesões, pressões da torcida, cobranças da comissão técnica, transferência para outros países que implicam em distância da família e adaptação aos costumes estrangeiros, bem como ao clima e ao novo idioma. Também conseguiriam lidar melhor com a fama que traz consigo a proximidade perigosa de “amigos da onça”, de empresários gananciosos e das “Marias- chuteira”. Além do mais, não seriam presas fáceis daquele tipo de imprensa que quer fabricar heróis para ganhar às suas custas.

O Mano Menezes disse que, no futebol, como na vida, a fila anda. Tomara, então, que vá em direção a um futuro melhor. Espero que as medidas necessárias para uma verdadeira renovação sejam tomadas e que sejamos vencedores dentro e fora de campo.



terça-feira, 27 de julho de 2010

A FADA MADRINHA E SUA VARINHA DE CONDÃO


No conto de fadas da Cinderela, a fada madrinha apareceu e, com sua varinha de condão, transformou as roupas da heroína em um vestido deslumbrante. Ela ainda fez uma abóbora virar uma linda carruagem. O gato foi transformado em cocheiro, e o rato, em um belo cavalo.

Na vida real, dificilmente, surgirá alguém que com um plim! fará todos os seus problemas desaparecerem.

Se puder resolver seus conflitos internos e encrencas diárias sozinho (a), ótimo. Se tiver amigos (as), que possam ouvi-lo (a) com atenção e cuidado e, ainda por cima, orientar e dar bons conselhos, excelente.

Mas, quando seus problemas são recorrentes e implicam um grau de sofrimento a si próprio (a) e aos outros que o (a) cercam, quando comprometem sua saúde mental e física, trazendo prejuízos a sua vida pessoal, social e profissional, está mais do que na hora de buscar a ajuda de um terapeuta competente e atencioso que irá ajudá-lo (a) a cuidar de si mesmo (a) e a situar-se melhor na existência.

Há excelentes profissionais da área de saúde mental (psicanalistas, psicólogos, psiquiatras) no mercado para ajudar a solucionar distúrbios alimentares, dificuldades nos relacionamentos afetivo-sexuais, compulsões, baixa auto-estima, depressão, síndrome do pânico e outras tantas doenças emocionais.

Recomendo que você procure profissionais indicados por alguém de confiança. Muito me assusta, hoje em dia, as pessoas escolherem seus médicos pela internet sem saberem nada sobre a pessoa que irá cuidar delas.

Nem sempre o profissional que tem o site mais bacana ou o consultório mais chique, é o possuidor de conhecimentos teóricos, técnicos e éticos, capaz de lhe oferecer o tratamento mais adequado e eficaz.

O ideal é que você faça uma pesquisa. Vá conhecer mais de um terapeuta, porque não basta que o profissional seja experiente, é muito importante que você sinta empatia e confiança para ficar à vontade para expor seus problemas. Quando, por exemplo, um parente ou um amigo querido me pedem a indicação de um analista, sempre penso em um profissional que, além do prestígio, tem um jeito real de ser que me passa uma impressão boa e parece combinar com a pessoa assustada e cheia de esperança que está sendo encaminhada para tratamento.

É útil que você saiba também que há excelentes institutos psicanalíticos e faculdades de psicologia que atendem de graça ou por preços simbólicos.

Muita gente não procura ajuda pelo constrangimento de se expor e pelo medo que assombra todos nós, o medo do novo. Ficar com o que é familiar, embora possa provocar infelicidade, parece ser mais prudente, fácil e seguro do que arriscar uma mudança que, segundo nossa imaginação ofuscada pelo receio, pode trazer o risco do fracasso e o gosto da decepção.

Eu entendo, mas preciso lhe alertar que há sempre um preço alto a ser pago, quando insistimos em não olhar para aquilo que está errado em nós. O pior inimigo é aquele que cresce silenciosamente dentro da gente. Um dia ele fica tão forte, que não há mais como detê-lo.

Não crie problemas para você, mas não fuja deles, quando aparecerem.

Encarar ainda é a melhor saída. A maior e a mais simples de todas as verdades é que para mudar o mundo, basta mudar a si mesmo!

Transforme-se e passará a ver tudo a sua volta com outros olhos. Sua visão será mais clara e você enxergará mais longe.

Existe uma nova pessoa dentro de você que quer nascer. Permita que ela venha ao mundo. Os profissionais da área “psi” saberão orientar e ajudar você. Procure-os. Serão bons companheiros no seu processo de crescimento pessoal.

sábado, 24 de julho de 2010

EQUILÍBRIO EMOCIONAL NA QUADRA: CESTA DE TRÊS PONTOS


Atletas não são máquinas, embora a energia e a habilidade de seus corpos nos deixem boquiabertos e exaustos só de olhar. Não existe um botão que possam apertar a fim de escolher o que querem sentir. Como todos nós, serão afetados por emoções positivas e negativas, mas podem ser treinados para lidar bem com ambas as experiências. O controle emocional, sem dúvida, proporcionar-lhe-ás um rendimento mais satisfatório dentro e fora das quadras.

No mundo esportivo, é inevitável a presença da ansiedade e do estresse pré-competição, no entanto, ao contrário do que se pensa, nem sempre eles prejudicam o desempenho do jogador.

Certo nível de estresse é normal e altamente benéfico. Hormônios estimulantes fabricados e jogados na corrente sanguínea são capazes de impedir o indivíduo de sentir dor e levá-lo a fazer o que é necessário para enfrentar a situação que se impõe, atingindo a melhor performance. Eu diria que nenhum bom combate é travado sem alegria e adrenalina correndo nas veias.

O problema é que a ansiedade excessiva faz com que o corpo reaja de modo desagradável. O raciocínio e a capacidade de decisão diminuem, os músculos tendem a não obedecer aos comandos do cérebro, o tremor e a falta de equilíbrio aparecem, além da possibilidade da violência irromper. Quantos jogadores não acabam brigando ou tentando decidir o jogo sozinhos, prejudicando a equipe toda? Saber reconhecer e modificar o pensamento negativo, encarando de maneira diferente o evento difícil evita problemas desnecessários.

Para diminuir a tensão é possível fazer uso de técnicas de relaxamento, de exercícios de mentalização e meditação, como também treinar o controle da respiração. Impossível não se lembrar da ex- jogadora Hortência. A estrela do basquete, antes de cada lance livre, movimentava os ombros e respirava fundo para manter a serenidade e a concentração.

Ainda há que se levar em consideração que o basquete é um esporte essencialmente coletivo. Mesmo que um jogador possa decidir uma partida, a defesa só se faz com a ajuda de todos. Por isso, é interessante trabalhar a parte psicológica do jogador para que ele sinta que faz parte de uma equipe e não apenas de um grupo de atletas. Aprender a ouvir e a entender o técnico e seus colegas, bem como aperfeiçoar a concentração, a atenção difusa e a visão periférica fazem muita diferença. Vou mais longe. Não basta que o jogador seja bom de passe e arremesso, ele deve perceber o clima do jogo, usar o ponto fraco da equipe adversária a seu favor, ficar atento aos critérios da arbitragem, criar alternativas para otimizar as ações dos colegas e ainda utilizar sua inteligência e atenção para rebotes cada vez mais rápidos.

Por sua vez, o treinador, além da parte tática, precisa saber motivar e apoiar os jogadores, lidar com personalidades diferentes, extraindo o melhor de cada uma e também construir um ambiente saudável para o treinamento.

Sabemos que não é fácil lidar com derrotas, lesões, pressões da torcida e cobranças de dirigentes por vitórias e bons resultados. A cada ano, o esporte torna-se mais competitivo e o peso do dinheiro e da influência política não facilitam o panorama. Assim sendo, cresce a importância do trabalho multidisciplinar. Não restam dúvidas de que os jogadores precisam de uma alimentação balanceada, de treinamentos físicos e táticos, de cuidados médicos e fisioterápicos e de apoio psicológico. Como dizem por aí “a união faz a força”. Que sejamos todos vitoriosos.



segunda-feira, 12 de julho de 2010

Violência Contra A Mulher - A Princesa E O Lobo Mau

Cinderela encontrou seu príncipe encantado, mas, na vida real, muitas princesas acabam se envolvendo com o Lobo Mau. “Vou soprar, vou bufar e sua casa derrubar”.

Sabemos que ele matou a avó da Chapeuzinho Vermelho e dois dos três porquinhos. É provável que existam outras vítimas. A própria Chapeuzinho Vermelho escapou por um triz.

A mulher que se envolve com este tipo de homem não tem nada a ganhar. Se conseguir sair da relação, terá que cuidar das feridas físicas e emocionais causadas pelo agressor. Se ficar, será eternamente infeliz, podendo ainda ser assassinada.

Geralmente, o “lobo” se apresenta em pele de cordeiro. É amigável, simpático e usa seu charme para seduzir as vítimas.

Com o tempo vai se revelando. No fundo, é um cara instável, insensível e que demonstra absoluta desconsideração pelos sentimentos dos outros.

Não sabe lidar com aborrecimentos, seus desejos e vontades são lei e precisam ser gratificados imediatamente. Fica furioso e destrutivo, quando não consegue o que quer.

Costuma não demonstrar remorso pelo crime cometido. É pouco provável que assuma a responsabilidade por seus atos. Segundo ele, a culpa é da bebida ingerida, da droga usada, do ciúme, da negligência da esposa que não passou bem sua camisa de trabalho ou que deixou a comida queimar no fogão.

Não admite para si mesmo nem para os outros que é um doente com grave distúrbio psicológico. Ao invés disso, pede perdão, jura que vai mudar seu comportamento e que aquilo não vai acontecer nunca mais. Fica carinhoso, mais paciente e até compra presentes para a “amada”, fingindo que nada de sério aconteceu. Porém, a fantasia de bom moço dura pouco. O que, normalmente, acontece é ele se tornar cada vez mais violento e os períodos de calmaria durarem menos.

Dados da Fundação Perseu Abramo revelam que, a cada 15 segundos, uma mulher é espancada no Brasil. Inúmeros crimes brutais acontecem constantemente. A violência doméstica é uma questão nacional. Pesquisa do Instituto Sangari revela que, em dez anos (1997 a 2007), dez mulheres foram mortas por dia no Brasil. Os assassinos, quase sempre, são os atuais ou ex-maridos, namorados ou companheiros.

Uma grande parte das mulheres se cala e não registra queixa com medo de apanhar mais ainda e de que o companheiro se vingue agredindo os filhos ou outros parentes próximos. Outras, por incrível que pareça, não querem prejudicar o agressor, pois sabem que seu destino pode ser a prisão. Há aquelas que dependem emocional e financeiramente do companheiro e que fazem valer a famosa expressão “ruim com ele e pior sem ele”. Por fim, algumas mulheres acreditam que a agressão não se repetirá e que talvez tenham sido culpadas pelo comportamento exaltado do companheiro.

É comum as vítimas da violência doméstica tentarem esconder o problema que estão vivenciando dos amigos e parentes por medo e vergonha. O aparecimento de machucados e hematomas é explicado como sendo fruto de uma queda ou batida.

Outros sinais ajudam a evidenciar a violência, tais como: baixa auto-estima, depressão, afastamento da vida social, introspecção, isolamento, aumento das faltas no trabalho, silêncio sobre a vida do casal.

E não é só a violência física contra a mulher que é intolerável. Também é inadmissível o abuso sexual ou emocional.

Querida leitora, se você está passando por isso, procure apoio psicológico. Eu sei como é difícil sair de um relacionamento desta natureza, mas acredite em mim: NÃO É IMPOSSÍVEL.

Admitir que a relação não faz bem para você e querer sair dela é o primeiro passo.

Grupos de ajudam funcionam muito bem e trazem resultados satisfatórios. Você já deve ter ouvido falar, por exemplo, na entidade MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas). Lá é possível aprender e se fortalecer ao tomar conhecimento da vida de outras mulheres com histórias de amor parecidas com a sua. A freqüentadora do grupo não precisa falar nada durante as reuniões, se não quiser.

Também é importante buscar orientação jurídica e policial. A lei Maria da Penha foi criada para proteger a mulher, mas ainda falha nas medidas protetivas. Mesmo assim, o melhor caminho é denunciar.

Você, mulher violentada, precisa de carinho e de cuidados e não de um torturador. Como dizem por aí: “É preferível um fim pavoroso a um pavor sem fim”. Tenha coragem para seguir adiante e também para olhar dentro de si mesma e avaliar o que a fez entrar e permanecer num relacionamento tão violento, a fim de que suas futuras escolhas amorosas sejam saudáveis e prazerosas.

Acho interessante analisar que por trás da violência mencionada neste artigo, existe uma sociedade que, muitas vezes, desmereceu as mulheres e divulgou a idéia de que o homem era superior e que, por isso, tinha o direito de impor suas vontades, inclusive as sexuais, usando, se preciso, até a força física para demonstrar a sua virilidade, força e poder.

Faz cinco mil anos que é perigoso ser mulher. Na história da humanidade, muitas mulheres foram queimadas na fogueira, apedrejadas, estupradas, espancadas, mutiladas sexualmente, tratadas como propriedade do homem e impedidas de sentir desejo. Até outro dia, não podiam estudar, votar nem trabalhar fora de casa.

Entre os diversos fatores envolvidos neste processo, um deles, sem dúvida alguma, é o medo inconsciente do feminino, que faz parte da psique humana.

A mulher é um imenso mistério. Ela é capaz de gerar outra vida dentro dela. Isso nos encanta e, ao mesmo tempo, apavora. Quem é esta que sangra todo mês, que é capaz de amar incondicionalmente, que traz a intuição dentro da alma, que é tão forte e frágil ao mesmo tempo e ainda assim é capaz de enfeitiçar os homens?

Fiquem tranquilos, rapazes, porque este medo não tem nada a ver com homossexualidade. Mas saibam que gostar de fazer sexo com mulher é uma coisa e gostar realmente de mulher é outra totalmente diferente e mais complexa. Tocar o corpo da mulher e chegar até a sua caverna escura não significa, de modo algum, tocar sua alma e entrar em contato com o feminino misterioso e profundo.

Se, por um lado, Freud falava da castração e da inveja do pênis, por sua vez, Lacan ressaltava o ciúme do orgasmo feminino, que é mais complexo e duradouro. Assim sendo, vejo o relacionamento amoroso e sexual como o encontro de duas pessoas assustadas pelas diferenças e estranhezas, tentando se proteger do outro e de si mesmas, mas, no fundo, querendo ser aceitas e admiradas.

Com carinho, respeito e diálogo, acredito ser possível perceber que a graça do conviver com outra pessoa está justamente nisso. Poder penetrar outro mundo, fazer novas descobertas, sentir medo e excitação, compartilhar, somar e ver a vida com outros olhos. A mistura do tempero masculino com o feminino é o grande sabor da vida.

Espero que você encontre um bom parceiro para desfrutar a vida ao seu lado. E lembre-se de que é preferível ficar sozinha a se envolver com o lobo mau. Viver só não tem nada a ver com ser infeliz.



sábado, 10 de julho de 2010

O Futebol No Divã: O Caso do Goleiro Bruno


A maioria das matérias apresentadas na televisão e dos artigos publicados na mídia sobre o caso do goleiro Bruno são muito parecidos.

Quase todos procuram dar destaque aos aspectos sórdidos do crime em questão. Parece-me que a intenção da imprensa não é apenas levar informação à população, como também usar a imensa repercussão do acontecimento para alavancar audiência.

Em comum também há um clima de comoção e condenação geral que parece sentir prazer ao gritar “pega e lincha”.

Quero deixar bem claro que não estou defendendo o Bruno nem os demais envolvidos. Para quem não me conhece, antes de fazer parte do mundo psicanalítico, pertenci ao universo jurídico. Sou formada em Direito (PUC/SP) e, como toda a sociedade, eu também desejo que os responsáveis sejam punidos. Mas acho que a postura adotada, até agora, pelos meios de comunicação e a exposição exacerbada do caso não têm eficácia alguma para ajudar a resolver a questão principal que se coloca diante de nossos olhos. Criticar e punir não basta. De que adianta secar um ambiente onde existe uma torneira que não fecha?

Inúmeros crimes brutais acontecem constantemente. A violência doméstica é uma questão nacional. Pesquisa do Instituto Sangari revela que, em dez anos (1997 a 2007), dez mulheres foram mortas por dia no Brasil. Os assassinos, quase sempre, são os atuais ou ex-maridos, namorados ou companheiros. Por quantas mulheres ainda vamos derrubar nosso pranto? Quem ainda não se lembra do Caso Eloá? Até ontem, estávamos chorando a morte de Mércia Nakashima. Agora, nossas lágrimas são por Eliza Samudio. A diferença é que, no último caso, há um famoso envolvido.

Além de Bruno, recentemente, outros jogadores de futebol foram investigados pela polícia. Vagner Love e Adriano tiveram seus nomes associados ao tráfico de drogas.

O fato é que estes atletas começam muito cedo na carreira, por volta dos 12, 13 anos. Geralmente abandonam os estudos e são provenientes de famílias pobres e desestruturadas. O futebol é o meio mais rápido e, talvez o único, que lhes possibilita reconhecimento social.

O jogador não é preparado para lidar com derrotas, lesões, pressões da torcida, cobranças da comissão técnica, transferências para outros países que implicam em distância da família e adaptação aos costumes estrangeiros, bem como ao clima e ao novo idioma. Não está nem pronto para a fama que traz consigo “amigos da onça”, empresários gananciosos e as “Marias- chuteira” da vida. Também é presa fácil das armadilhas da imprensa que, em um momento, estende o tapete vermelho para indivíduos despreparados, transformando-os em heróis e, logo em seguida, puxa-o, levando-os ao chão.

O apoio psicológico deveria ser tão importante como a alimentação balanceada, os treinamentos físicos e táticos e os cuidados médicos e de fisioterapia. Nelson Rodrigues, em sua crônica “Freud no Futebol”, diz que “de fato, o futebol brasileiro tem tudo, menos o seu psicanalista. Cuida-se da integridade das canelas, mas ninguém se lembra de preservar a saúde interior, o delicadíssimo equilíbrio emocional do jogador. E, no entanto, vamos e venhamos: - já é tempo de atribuir ao craque uma alma, que talvez seja precária, talvez perecível, mas que é incontestável”.

Vou mais longe ao dizer que não é apenas, no futebol, que este lamentável esquecimento acontece. Há algo de errado no mundo, porque existe algo de errado em nós. A sociedade apenas é o reflexo de nossos melhores sonhos e piores pesadelos. Estamos deixando de investir nos seres humanos e em suas emoções e complexidade. Se não mudarmos, cada vez mais o mundo transformar-se-á em um lugar insuportável de se viver. Vou repetir o que escrevi recentemente em um artigo: A transformação começa dentro de casa. Vamos criar seres humanos mais carinhosos e solidários, que saibam distinguir o certo do errado, que suportem frustrações, que aceitem regras e limites, que respeitem as diferenças, que não confundam posicionamento com agressividade, que dêem mais valor às pessoas do que ao dinheiro e ao “status”. Só assim teremos alguma chance de uma vida melhor.



quarta-feira, 7 de julho de 2010

A Profecia Futebolística Do Polvo Vidente E A Superstição Na Copa


Em todas as Copas do Mundo, algumas personagens destacam-se e trazem um colorido a mais para o evento esportivo. Nesta de 2010, entre várias, duas chamaram minha atenção em especial por estarem relacionadas a superstições e adivinhações: Maradona e Paul, o polvo vidente.

O técnico da Argentina, dono de uma personalidade complexa e excêntrica, com seu passado marcado por glórias e escândalos, parece ter saído da disputa com o saldo positivo. Carismático, protetor e carinhoso com seus jogadores, espirituoso com a imprensa e respeitoso, dentro do possível, em relação aos adversários. Mas não reparei apenas nestes aspectos comportamentais, como também em suas manias.

“El Diez” (O Dez) usou o mesmo terno e a mesma gravata em todos os jogos. Durante as partidas, segurou um terço entre os dedos. Não entrava nem saía do campo sem se benzer. Apesar de quase não sentar-se durante o jogo, o banco escolhido sempre foi o terceiro da direita para a esquerda. Maradona procurou dar suas entrevistas antes dos jogos na mesma sala de imprensa em Pretória. Poderia citar ainda outras, como dormir com a camiseta da seleção, mas acho que estas já estão de bom tamanho.

Por sua vez, Paul, o polvo vidente, roubou a cena na África do Sul, porque previu, até agora, o vencedor dos jogos disputados pela Alemanha. Acertou a vitória sobre a Austrália, Gana, Inglaterra e Argentina, bem como a derrota do time alemão para a Sérvia e Espanha. A profecia é feita da seguinte maneira: em duas caixas, cada uma delas decorada com a bandeira de um dos dois times adversários, coloca-se comida para o octópode. A escolhida por Paul aponta o vencedor.

Será mesmo possível prever o futuro e vislumbrar o que ele reserva aos homens e ao universo? O trevo de quatro folhas dá sorte? Passar embaixo da escada é perigoso?

Francis Bacon disse que “evitar as superstições é uma outra superstição”. Porém, de acordo com Voltaire, “a superstição põe o mundo em chamas, a filosofia apaga-as”.

O fato é que, desde sempre, as crendices e a visão mágica do mundo estiveram presentes na história da humanidade. Nossa compreensão é afetada por desejos e emoções. É comum acreditarmos naquilo que gostaríamos que fosse verdade.

Viver é tarefa das mais complexas. Somos seres mortais, falhos, desamparados, vulneráveis e impotentes em relação às forças da natureza. Os relacionamentos com nossos semelhantes nos fazem sofrer e ainda precisamos tolerar as frustrações e privações que a sociedade nos impõe.

As crendices ganham força porque é da natureza humana evitar o desprazer, buscar proteção, negar a ameaça do mundo externo, acreditar que o destino representa sempre a expressão da vontade divina. Quando algum infortúnio nos acontece, para amenizar o sofrimento nos consolamos acreditando que não era para ser.

Não duvido, como disse Shakespeare, de que “há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia”, mas acho prudente tomar cuidado com os charlatães que estão por aí, aproveitando-se da boa fé das pessoas. Não temos controle absoluto sobre tudo o que nos acontece, mas somos nós mesmos que escrevemos o nosso futuro na maior parte do tempo e ele é determinado pelas escolhas e atitudes adotadas no momento presente. Por isso, faça o melhor que puder hoje. O passado já ficou para trás e o futuro ainda não chegou. Prepare-se e dedique-se. É você quem escreve a sua história. No fim das contas, a vida é parecida com uma partida de futebol. Se você jogar bem, terá maior chance de ganhar. Se jogar mal, é bem provável que perca. O equilíbrio entre os adversários tende a levar ao empate. Se a disputa for para os pênaltis, ganhará o time que tiver o melhor desempenho nas cobranças. Jogar com alegria no coração sempre ajuda.

Espero que sua vida valha à pena e que você faça muitos gols.



sábado, 3 de julho de 2010

Brasil Fora da Copa do Mundo: O Emocional Também Entra Em Campo


Este artigo não tem a intenção de criticar ninguém nem procurar culpados para crucificar. Pelo contrário, respeito e admiro o Dunga assim como todos os jogadores da seleção brasileira. Apenas pretendo chamar a atenção para um fato óbvio que, em minha opinião, tem sido negligenciado. Sou psicanalista e, dentro do consultório como fora dele, nunca vi tanta gente desequilibrada emocionalmente. Elas estão em toda parte: nos hospitais, nas empresas, nas repartições públicas, nas escolas e faculdades, nos condomínios, inclusive nos campos de futebol.

Sim, o time brasileiro não perdeu para a Holanda, mas para si mesmo. Enquanto estavam ganhando, os jogadores pareciam felizes e motivados. Quando a situação complicou, o nervosismo e o descontrole ficaram evidentes. Não basta saber que se é o melhor time do mundo, é preciso sentir que se é e agir como tal.

Em uma disputa, quando perdemos, quase sempre somos derrotados por nossos próprios medos, por nossas inseguranças e fragilidades e pela incapacidade emocional de lidar com a situação adversa.

Nossa sociedade treina e incentiva os indivíduos a alcançarem vitórias e conviverem com emoções agradáveis e positivas. A mídia procura fabricar “campeões” para ganhar dinheiro às suas custas e tentar esconder um elefante embaixo do tapete da sala, vendendo um conto de fadas, mas a verdade é que não existem heróis imaculados. Todos nós somos falhos. Negar nossos defeitos é negar aquilo que faz de nós humanos. Como diria Clarice Lispector: “Até cortar os defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.” O verdadeiro herói é aquele que encontra sua força em sua maior fraqueza. É aquele que enfrenta dores e obstáculos e os supera. Sabe que não é perfeito e não se preocupa em sê-lo.

Parece que se esqueceram de nos ensinar a lidar com frustrações e dificuldades. Hoje, jovens ricos e entediados, sem limites e incapazes de encarar a realidade de fato como ela é, queimam um índio deitado na praça para se divertir. Adultos infelizes com seus trabalhos descontam sua raiva em brigas de trânsito. Casais separam-se, quando aparece o primeiro problema conjugal mais sério.

Não é à toa que o consumo do Prozac e de medicamentos afins têm crescido assustadoramente. Em um mundo, que demanda respostas fáceis e rápidas, procuramos nos livrar logo da dor que incomoda. Só que viver machuca mesmo e gera ansiedade. Não dá para viver a vida, evitando-a. Quem quer ser mais feliz e equilibrado, precisa aprender a tolerar e a conviver com uma gama mais ampla de experiências emocionais.

Sua vida muda, quando você se transforma. Quem não lida com suas dores e não reconhece os seus erros, não amadurece nem aprende. O Felipe Melo, em uma entrevista após o jogo, disse que só pisou no jogador holandês, mas que não teve a intenção de machucar. O que ele quis dizer com isto? Que ele podia pisar então, só não podia machucar? Parece o político que só colocou um pouquinho de dinheiro na cueca.

Creio também que os ídolos mudaram. Antigamente, a fama era o resultado da competência com a dedicação. As celebridades atuais vivem mais de aparência do que de talento e preparação. Por isso, os realities shows fazem tanto sucesso. Não consigo entender o porquê destas estrelas sem brilho próprio serem tão endeusadas e, ainda por cima, ganharem tanto dinheiro. Qual o bem gigantesco que elas fizeram em prol da humanidade? Viva o glamour e os egos inflados! E como ficam os milhões de brasileiros anônimos que acordam cedo para trabalhar todos os dias, que dão um duro danado para ganhar o pão de cada dia e que recebem um salário que mal dá para sustentar a família? Nós sabemos que os jogadores de futebol famosos ganham uma fortuna.

Hoje, tanto se fala em ecologia e em um planeta melhor no futuro. Este lugar só existirá, se as pessoas mudarem. A transformação começa dentro de casa. Vamos criar seres humanos mais carinhosos e solidários, que saibam distinguir o certo do errado, que suportem frustrações, que aceitem regras e limites, que respeitem as diferenças, que não confundam posicionamento com agressividade, que dêem mais valor às pessoas do que ao dinheiro e ao “status”.

Espero que, em 2014, nossa seleção querida seja campeã e que, se não o for, pelo menos seja representante de uma população mais amadurecida, honesta e equilibrada, mantendo sua alegria e sua ginga brasileira inconfundíveis. Que venha o hexa!