domingo, 24 de janeiro de 2010

QUANDO O INIMIGO É CONVIDADO PARA O JANTAR ( O que é ortorexia, quais são seus sintomas e como pode ser tratada)






Nestes tempos modernos, o ato alimentar vem perdendo sua naturalidade.

Até outro dia, a comida servia para nutrir não só o corpo, mas também a alma. O alimento fornecia os nutrientes indispensáveis ao crescimento, desenvolvimento e funcionamento normal do organismo, além de dar prazer.

Hoje, não se come, se faz “dieta”.

A relação do homem com sua forma corporal sofreu profundas modificações, tornando-se bastante problemática e artificial. Pobre corpo que virou um inimigo a ser constantemente domado e atacado. Parece que não moramos mais dentro dele. Estamos do lado de fora, olhando-o como espectadores, loucos para mudá-lo e moldá-lo de acordo com nosso desejo.

Não podemos esquecer que estamos na era da publicidade. A propaganda e os meios de comunicação alimentam a busca insana por um corpo perfeito. A beleza, nos dias de hoje, é sinônimo de obsessão pela magreza e pela juventude.

Descontentes com seus corpos e sua aparência física, as pessoas buscam todas as alternativas possíveis para alcançarem a tal estética ideal. Se entrarmos na internet, encontraremos inúmeras informações sobre dietas e regimes prometendo o corpo perfeito, muitas vezes sem nenhum embasamento científico. Assim fica fácil entender porque novos distúrbios alimentares estão surgindo e ganhando espaço. O que será que estes corpos doentes, através de seus sintomas, estão tentando nos falar? Parecem gritar para quem quiser ouvir que o mundo emocional não vai bem. Como estas pessoas se relacionam consigo mesmas e com os outros? Como pensam (ou não pensam) a vida e as frustrações cotidianas?

A ortorexia é um distúrbio alimentar, ainda pouco conhecido, caracterizado pela preocupação excessiva com a qualidade do que se come. Este termo foi usado pela primeira vez em 1997 por Steven Bratman, médico americano. A palavra é um neologismo. Segundo o dicionário grego, “orthos” quer dizer correto e “oréxis” significa apetite, ou seja, “alimentação correta”.

Não há nada de errado em buscar uma alimentação saudável, o problema é que o portador da doença o faz de forma exagerada, obsessiva. O indivíduo passa a comer apenas alimentos naturais e orgânicos (sem agrotóxicos), eliminando de sua dieta carboidratos, gorduras, produtos industrializados, açúcar, leite, carne vermelha.

O ortoréxico acredita que a dieta manterá seu corpo saudável, jovem e livre de toxinas, mas esta rigidez alimentar, pelo contrário, pode trazer graves danos à saúde. Como o mesmo cardápio se repete com freqüência, ocorrem deficiências nutricionais que podem ocasionar anemia, desnutrição, osteoporose, alterações hormonais, queda do sistema imunológico.

Alimentação boa é aquela que é balanceada e variada.

Alguns sinais indicam a presença da doença. Suspeite de ortorexia se a pessoa:

* Dedica grande parte do seu tempo planejando e controlando suas refeições de modo que a dieta se torna o centro da sua vida;

* Examina detalhadamente o valor nutricional de cada alimento que ingere;

* Só compra alimentos macrobióticos, dietéticos, orgânicos, integrais, sem aditivos e conservantes.

* Apenas come o que prepara ou cujo processo acompanha, por isso, se isola e deixa de freqüentar festas, jantares e reuniões para evitar o consumo de alimentos nocivos;

* Sente uma culpa enorme quando consome algum alimento que não faz parte da dieta;

* Observa e comenta a maneira como as outras pessoas preparam a comida, tentando convertê-las a este tipo de alimentação;

* Perde muito peso por causa da dieta adotada.

Se todos nós sofremos influência da mesma sociedade, por que só alguns adoecem? Quais pessoas são mais propensas a desenvolver o distúrbio alimentar? Geralmente, por trás deste sintoma encontramos pessoas rígidas, exigentes e em busca de perfeição, preocupadas com normas e regras e que tendem à idealização.

O tratamento da doença é feito através de uma equipe multidisciplinar com nutricionistas, endocrinologistas, psicanalistas, psiquiatras, além de outros profissionais da área da saúde. Em alguns casos, o uso de medicamentos é necessário.

A busca pela beleza e pela saúde não é um mal em si. O problema está na transformação desta busca no único meio de dar sentido à vida. O que nos faz querer, aos 40 anos, ter o mesmo corpo de quando tínhamos 18? Por que queremos parar o tempo? Precisamos ver a vida com outros olhos. Vamos celebrar o milagre de andar por este mundo e gastar nossa energia lutando pelos nossos sonhos e por uma existência melhor com mais conteúdo e valor.




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