sexta-feira, 10 de agosto de 2012

"VIVER NÃO É PRECISO. CAMINHAR É PRECISO". - PENSANDO SOBRE O FILME ON THE ROAD (NA ESTRADA)




"VIVER NÃO É PRECISO. CAMINHAR É PRECISO."- PENSANDO SOBRE O FILME "ON THE ROAD" (NA ESTRADA) 

É terrível para um escritor ver sua inspiração partir sem dia e hora para voltar. E é terrível para qualquer ser humano não saber quem se é, não achar sentido na vida e fazer de sua existência uma grande página em branco.

Enganada pelo trailer empolgante e por meus próprios desejos inconscientes, fui ao cinema esperando ver um filme e assisti a outro completamente diferente. Fui surpreendida por uma história profunda, tocante e perturbadora. Vi um filme onde os atores estão totalmente entregues a seus personagens e cuja trama também é contada com o auxílio de uma trilha sonora antenada e por uma fotografia exuberante, marcada por cores quentes, enquadramentos em primeiro plano, closes invasivos que capturam a angústia existencial dos personagens e cortes precisos.

“On the Road” (Na Estrada) é um filme baseado no romance polêmico escrito por Jack Kerouac em 1957.

Sal Paradise (interpretado por Sam Riley), narrador da história, é um jovem escritor tentando decolar que, após a morte do pai, não consegue escrever.

Ao lado do amigo Dean Moriarty (brilhantemente interpretado por Garret Nedlund), Sal resolve atravessar os Estados Unidos, de Nova Iorque até o México.

Dean é o típico cara “porra-louca”. Dotado de uma fúria vital descontrolada, seduz todos a sua volta (Carlo, Marylou/Kristen Stewart, Camille/Kirsten Dunst). Sal também o segue e explica seu fascínio com as seguintes palavras: “E eu me arrastei como tenho feito toda a minha vida, indo atrás das pessoas que me interessam, porque os únicos que me interessam são os loucos, os que são loucos para viver, loucos para falar, que querem tudo ao mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam e não falam obviedades, mas queimam... queimam... queimam... como fogos de artifício em meio à noite”.

Muitos conflitos emocionais permeiam e intensificam o relacionamento entre os dois, inclusive questões paternas. Sal não superou a morte do pai e Dean não consegue encontrar o seu. No México, quando Sal adoece, Dean o abandona à própria sorte, mostrando sua incapacidade de ser solidário, de cuidar de quem quer que seja, inclusive de si mesmo. Quando ocorre a separação e a interrupção da travessia, Sal volta a escrever num momento de encontro consigo próprio.

Mais do que contar a história da geração “beat” embalada por álcool, drogas, sexo, liberdade desenfreada, jazz, Proust, James Joyce, Rimbaud e cujo lema era “live fast, die young”, o filme aborda uma questão universal: a busca de cada um de nós pelo autoconhecimento e de um sentido da vida, além do modo pelo qual lidamos (ou não) com a angústia, o desamparo e o desconforto de viver.

Qual a moral da história? Que cada um se vire e encontre a sua, porque viver bem tem um significado distinto para cada pessoa. Para uns, pode ser viver alucinadamente com o coração sempre saltando pela boca. Eu acredito que viver bem é, acima de tudo, viver a verdade: A SUA VERDADE.

Felizes aqueles que percorrem as estradas da vida honrando cada quilômetro; aqueles que, apesar dos desvios e das rotas tortas, sabem que a travessia é muito mais importante do que a chegada e que, sobretudo, não deixam de dar carona às oportunidades que os deixam cada vez mais próximos de quem, de fato, querem ser.

Boa viagem! Pé na estrada!
           

Um comentário:

  1. Adriana! Conheci seu blog e gostei muito dos seus textos e da forma que escreve. Sou psicanalista em Londrina PR e também possuo um blog onde posto textos e pensamentos. Fica convidada a vê-lo.
    Só tenho uma crítica. Queria ler mais textos seus!

    Sylvio Schreiner
    www.sylviopsi.blogspot.com.br

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